sexta-feira, 30 de abril de 2021

Jessé Nascimento (O Assaltante)

Era um local onde, diariamente, ocorriam muitos assaltos.

Parou indecisa ao pé da passarela, olhou para cima e sentiu-se um pouco amedrontada. Lá estava um homem de idade mediana, encostado no gradil. Sua aparência não era das mais recomendáveis. Às vezes seu olhar acompanhava alguns passantes, às vezes se perdia na observação dos veículos que transitavam nas diversas pistas.

O sol praticamente já declinara e o anoitecer empurrava  o restante da claridade do dia, a fim de iniciar mais uma vez o seu reinado.

Continuou indecisa. Enfrentaria a situação e subiria os degraus, correndo o risco de ser molestada e assaltada ou optaria pela possibilidade de ser atropelada ao tentar atravessar aquela perigosas pistas?

Os segundos - que pareciam eternizar-se - se passavam  e ela sem saber o que fazer. A aproximação de mais algumas pessoas, que também subiriam a passarela, fê-la tomar a decisão. Iniciou a subida, degrau a degrau, quando, na realidade, gostaria de vencê-los de uma só vez. O coração aos pulos. Os olhos fixos no homem, no perigoso homem atravessado em seu caminho.

À medida que subia foi ficando intrigada. O homem, completamente imóvel, estava olhando fixamente para o chão, pouco se importando com quem passava ao seu lado. Lá embaixo, os veículos rareavam por causa do semáforo fechado pouco atrás.

Terminou a subida e, ainda um pouco temerosa, apressou a caminhada. O homem não a molestara. Pelo contrário, continuava imóvel, olhos agora direcionados para os carros que se aproximavam com a abertura do semáforo.

Parecia mais alguém que estivesse  ali há horas pensando na vida. Talvez nem fosse um ladrão. Como ela fora idiota e como o julgara mal! Quem sabe fosse alguém esperando uma ajuda, sem coragem de pedi-la. Um trabalhador sem o dinheiro da passagem. Ou um desempregado sem saber o que fazer da vida. Talvez fosse até mesmo um ladrão esperando o melhor momento para agir.

Misturada a outros poucos passantes que ali transitavam, pois a maioria preferia arriscar-se atravessando as pistas, iniciou a descida do outro lado. Ao pisar no 2º ou 3º degrau, ouviu um baque surdo. Parou, assim como os demais, para ver o que acontecia. O medo cedera lugar à curiosidade. Estarrecida viu um corpo ricocheteando no teto de um ônibus, caindo na frente de outro e acabando por ser esmagado.

Voltou seus olhos para o local onde estivera seu possível assaltante.               
 
Não estava mais ali.

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