JÚLIA LOPES DE ALMEIDA
(Rio de Janeiro/RJ, 1862 – 1934)
AFONSO LOPES DE ALMEIDA
(Rio de Janeiro/RJ, 1889 – 1953)
A ÁRVORE
Fui débil caule, à flor da terra, quando
Do chão nasci, meu maternal regaço.
Atraiu-me o esplendor do vasto espaço:
Para o alcançar, me fui da terra alçando.
Cresci. Dei flor. E os galhos recurvando,
Exausta, pelo esforço, de cansaço,
Ao calor fecundante do mormaço
As flores fui em fruto transformando.
Crianças, que marinhais por mim acima!
Trepai ao alto, como o arrais nos mastros!
Vegetal como sou, que nada anima,
Pudesse eu elevar-me, eu rude, eu bronco!
Vossa cabeça chegaria aos astros,
E vossos pés à terra, por meu tronco!
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NEWTON MESSIAS
(Recife/PE)
ÁRVORE
Das raízes bem fincadas no chão
Sobe um tronco rígido e solitário
Que se abre ao céu azul, santuário,
Em piedosos braços, em oração.
De roupagem leve que o vento abana
E às vezes nua em pele de madeira
(Cada estação à sua própria maneira):
"Nunca envergonhada", ela se ufana.
Conhece a sanha de chuvas e ventos;
As variações de frio e calor;
A solidão de cumes e desertos.
Pássaros cantam para seu alento
Antes que morra e tombe sem vigor
Deixando as raízes a céu aberto.
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OCTÁVIO PAZ
(México, 1914 – 1998)
ÁRVORE ADENTRO
Cresceu uma árvore à minha frente.
Cresceu para dentro.
Suas raízes são veias,
nervos, seus ramos,
Suas confusas folhas, pensamentos.
Teus olhares incendeiam-na,
e seus frutos sombras
são laranjas de sangue,
romãs feitas de lume.
Amanhece
na noite do corpo.
Ali dentro, à minha frente,
a árvore fala.
Acerca-te. Ouve-a já tu?
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RENÉ JUAN TROSSERO
(Argentina, 1927 – 2020)
ENSINAMENTOS DA ÁRVORE
Aprende da árvore
E deixa que os ventos da vida
Te despojem dos ramos secos
Para deixar lugar aos brotos novos.
Aprende da árvore
E deixa cair as folhas secas do passado
Para que adubem o solo,
Onde tuas raízes preparam o futuro.
Aprende da árvore
E não faças do inverno
Um tempo de tristeza e morte,
Mas um tempo de esperança, para enraizar-te melhor
E reviver mais forte como primavera.
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RICARDO GONÇALVES
(São Paulo/SP, 1888 – 1916)
A ÁRVORE
Salta do leito e vem cá fora,
Vem ver esta árvore, sonora
De murmurinhos e canções.
O sol nascente a afaga e beija,
E as suas frondes purpureja
Com seus vivíssimos clarões.
Anda-lhe em torno, álacre, um vivo
Zumbir de insetos; pelo crivo
Das folhas verdes fulge o sol;
E, entre cortinas viridentes,
Zinem cigarras estridentes,
Tecem aranhas o aranhol.
Depois, a pino, o sol escalda,
E a sua copa de esmeralda
É como um pálio protetor,
A cuja sombra, ampla e divina,
Cantam as aves, em surdina,
Cantos dulcíssimos de amor.
Ama-a! Toda a árvore é sagrada.
Ama esta esplêndida morada
De abelhas de ouro e aves gentis!
Busca entender tanta poesia,
E faze coro à sinfonia
Da natureza, que a bendiz!
Ama-a, na glória matutina,
Entre os vapores da neblina,
Que toda a envolvem, como véus,
Cheia dos prantos da alvorada,
Ou melancólica, estampada
No ouro e na púrpura dos céus...
E reza então: “Bendita sejas
Por tuas frondes benfazejas,
Pelos teus cânticos triunfais,
Por tuas flores e perfumes,
Pelos teus pássaros implumes,
Por tuas sombras maternais.”
Fonte:
Sammis Reachers (org.). Árvore: uma antologia poética.
São Gonçalo/RJ, 2018. E-book enviado pelo organizador.
Sammis Reachers (org.). Árvore: uma antologia poética.
São Gonçalo/RJ, 2018. E-book enviado pelo organizador.
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