sábado, 29 de janeiro de 2022

Estante de Livros (Antígona, de Sófocles)


Sinopse:

Antígona é uma peça teatral escrita por Sófocles em 441 a.C. cujos fatos aconteceram por volta de 1.250 a.C., em Tebas na Ásia Menor, na qual exalta a coragem de uma princesa que enfrenta o rei arriscando a própria vida em defesa de um princípio.

Numa das mais belas e dramáticas tragédias já escritas, Sófocles devassa em toda a sua profundidade o amor, a lealdade, a dignidade.

O confronto entre Creonte e Antígona encena rivalidades centrais da experiência humana, a justiça e a injustiça, o direito natural e o direito positivo, a sociedade e o indivíduo, o Estado e a consciência, a prática e a moral, a submissão e a rebeldia, o masculino e o feminino, o velho e o jovem.

O enredo

A intriga da história começa com uma alusão à guerra dos Sete contra Tebas, na qual os dois irmãos de Antígona, Etéocles e Polinices, se confrontam em lados opostos na disputa pelo trono.

Ambos morrem no campo de batalha, mas aos olhos de Creonte, tio daqueles, Polinices é considerado traidor de Tebas e, por isso, não lhe são concedidas honras fúnebres.

A Decisão

Creonte, com a morte dos dois sobrinhos Etéocles e Polinices, torna-se rei de Tebas.

A sua primeira decisão como regente, foi enterrar o sobrinho Etéocles com todas as honras funerárias e deixar o corpo de Polinices insepulto. Para que se cumpra a sua decisão, decreta que a pena para a desobediência, é a morte.

A Contestação

Antígona, apesar do interdito do rei Creonte, quer sepultar o irmão Polinices e evoca para tanto um princípio da lei não escrita.

Antígona diz a Creonte que acima da Lei da Cidade existe a Lei Divina e que está acima das leis cósmicas incorporadas na ordem social.

A Desobediência

Antígona recusa-se a cumprir a ordem de Creonte e, considerando tratar-se de um dever sagrado dar sepultura aos mortos, infringe a ordem do soberano e realiza os rituais fúnebres a que o irmão tem direito.

As Consequências

Devido a este ato de piedade, Antígona é condenada à morte pelo rei de Tebas e encarcerada viva no túmulo dos Labdácidas, de quem descende.

A ação impiedosa do rei será punida no final da tragédia: ao tomar conhecimento da morte de Antígona, Hêmon, filho de Creonte e noivo de Antígona, suicida-se.

Por consequência deste segundo suicídio, é a vez de Eurídice, mãe de Hêmon, decidir "morar eternamente no Hades".

O Impasse


Abre-se aqui um abismo entre a consciência do indivíduo que está aberta para a Lei Divina supra-cósmica e a consciência do meio social que está presa no meio da ordem cosmológica.

Este abismo gera um conflito entre a Lei dos Céus (dos deuses) que ela defende e a Lei da Terra (dos homens) que Creonte precisa fazer cumprir. Cria-se assim um impasse, resultante da contraposição entre duas esferas de poder: A Lei dos deuses e a Lei humana.

O Dilema

Todo o enredo da tragédia de Tebas gravita em torno desse dilema moral que dura mais de 3 mil e 250 anos e que faz de Antígona uma das mais importantes obras que dá os princípios basilares para o cristianismo:

Cumpre-se a Lei do Céu ou a Lei da Terra?

Considerações importantes

1. A falta de Antígona foi o de desrespeitar uma ordem do rei.

2. Creonte tinha razão quanto a defesa da Lei da Terra (Poder temporal), todavia sua decisão interferiu sobre a Lei dos Céus (Princípio espiritual). Logo, qual das leis deve ser cumprida?

3. Este dilema já dura 3.250 anos porque as duas posições são imprescindíveis para a humanidade.

4. Creonte era um governador e não um estadista* esse foi o seu maior problema.

* Estadista é aquele que consegue sacrificar a Lei da Terra em prol da Lei dos Céus.

5. É preciso considerar a hierarquia das leis divinas sobre as disposições humanas.

6. Imaginar que o humanismo é a solução para os problemas humanos é de uma ingenuidade incrível. Equipara-se ao raciocínio de uma criança de 8 anos.

7. Perder a noção do sagrado é a pior coisa que pode acontecer ao ser humano. Foi o que aconteceu com Creonte quando toda uma tragédia se abateu sobre a sua regência e sua família.

Conclusão

1. O ser humano pela sua condição de dualidade (Divina e Terrena), viverá permanentemente em conflito entre o Poder Espiritual e o Poder Temporal de cuja ambiguidade não conseguirá sair jamais. Por essa razão que o problema já dura mais de três milênios.

2. Não há solução coletiva para o problema. A solução para conflito resultante da dualidade humana será sempre individual, pois não há solução fora do indivíduo, porque nada substitui a sua consciência individual das coisas.

Sobre o autor:

Sófocles (495 a.C. – 406 a.C.) nasceu e morreu em Atenas, na Grécia, e foi um dos maiores intelectuais da Antigüidade clássica. Autor prolífico e consagrado em seu tempo produziu cerca de 120 peças das quais restaram conservadas apenas 7, entre as quais Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígona, Ájax e Electra.

Fonte:
Texto de Anatoli Oliynik, em seu blog Anatoli: um blog cultural.

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