domingo, 23 de janeiro de 2022

Filemon F. Martins (Poemas Escolhidos) XIII

AMOR E SAUDADE
 
Vou prosseguindo pelo meu caminho
em busca do meu sonho mais dileto:
- cantar feliz e amar qual passarinho,
que no seu ninho sente-se completo.

Correr ao vento, roupa em desalinho,
plantando amor e paz no meu trajeto,
quero encontrar um pouco de carinho
que me dê paz no mundo sem afeto.

Vejo, porém, que continuo o mesmo,
descrente, sem amor, vagando a esmo
sem encontrar a tal felicidade.

E os sonhos que sonhei em minha vida
vão acenando em triste despedida
cravando, no meu peito, esta saudade.
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ANTES QUE A NOITE CHEGUE...

Quando o sol se debruça no horizonte
deixando a tarde bela e mais fagueira,
antes que a lua, pelo céu, desponte,
a saudade se achega e faz trincheira.

Ao longe, em tom avermelhado, o monte
transmite uma quietude verdadeira,
trazendo ao coração o som da fonte
que canta, docemente, em corredeira.

Assim, vou recordando os tempos idos,
sonhos fagueiros, lindos e vividos,
que a memória jamais vai esquecer...

E, antes que chegue ao fim dessa jornada,
terei, por certo, em minha caminhada
muitos versos de amor para escrever.
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A VOZ DO TEMPO
 
O tempo vai levando cruelmente
vidas, amores, glórias e venturas.
Dissabores espreitam lá à frente
e os sonhos viram pó e desventuras.
 
Ao procurar motivo que contente
um coração cansado das agruras,
minha oração se eleva docemente
e busca a paz que desce das alturas.
 
Mas o tempo não para e nem descansa,
não permite sequer uma esperança
que me deixe mudar o itinerário...
 
Impossível fugir do meu destino
já traçado, talvez, desde menino:
Levar sozinho a cruz do meu calvário!
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ELOGIO AO SONETO

No meu viver de agitação, proscrito,
eu busco a paz para escrever um verso
e de alma pura, coração contrito,
procuro a melhor rima do Universo.

O desespero aperta, estou aflito...
Como escrever num mundo tão perverso?
A inspiração me acode com um grito,
e o meu soneto nasce, incontroverso...

Ao verbo de Camões me fiz escravo,
em busca da palavra me fiz bravo,
para dar ao soneto nova aurora...

Que o pavilhão tremule lá na praça,
e brilhando, qual pérola sem jaça,
reine o soneto pelo mundo afora!
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INTERROGAÇÃO

Quando nascemos, dizem que o Destino
já vem traçado para o ser Humano,
pois sendo assim, irado, recrimino,
porque no meu, parece, há um engano.

Como entender que o amor do ser Divino
possa me dar sentença de tirano?
Se a predestinação me fez cretino,
como me corrigir, se sou mundano?

Que culpa cabe a mim, se esta premissa
for verdadeira e a providência omissa
para me condenar sem indulgência?

Porventura, o que a vida nos promete
nada se cumpre e apenas nos remete:
- por que nos deu o senso e a inteligência?

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