Era uma vez uma papagaia ... ou antes, era uma vez uma senhora que vivia sozinha, era muito católica e não tinha bicho nenhum em casa. Como era uma senhora solteirona, ficava até um pouco puxado para o tarado o fato dela não se dedicar a um bicho. É aqui que entra a papagaia.
Um dia a senhora solteirona sem nenhum bicho em casa foi visitar uma família conhecida. Chegou lá, viu uma papagaia num poleiro, cantarolando. "Que bonito papagaio" – ela disse. "Não é papagaio. É papagaia" - disseram para a senhora. E, como tivesse se interessado muito, a família ofereceu a papagaia a ela.
Está na cara que a senhora solteirona sem nenhum bicho em casa adorou o oferecimento e carregou a papagaia para casa. Mas aí é que foi chato, pois a papagaia era levadíssima. Mal chegou à sua nova casa, começou a dizer palavrões homéricos, a citar trechos completos da última peça do Nélson Rodrígues, a recitar o diálogo de La dolce vita* e a dizer coisas horríveis sobre seus desejos incontidos.
A senhora ficou horrorizada e já ia mandar a papagaia embora quando chegou um vizinho para visitar. Soube do drama e disse: "Não há de ser nada. Eu tenho lá em casa dois papagaios comportadíssimos. Tão comportados que passam o dia rezando. Eu boto a papagaia perto dos dois e pode ser que ela se manque e fique igual a eles".
A senhora agradeceu muito e a papagaia foi.
O vizinho colocou a papagaia num poleiro entre os dois papagaios. Assim que ela se viu na parede, começou a engrossar outra vez. Foi aí que um dos papagaios abriu um olho e ficou observando. Quando ficou convencido de que a papagaia era mesmo da pá virada, cutucou o outro que continuava rezando e disse:
- Pare de rezar, companheiro, que, ou muito me engano, ou nossas preces acabam de ser atendidas.
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* La dolce vita: filme italiano de 1960 dirigido por Federico Fellini.
Um dia a senhora solteirona sem nenhum bicho em casa foi visitar uma família conhecida. Chegou lá, viu uma papagaia num poleiro, cantarolando. "Que bonito papagaio" – ela disse. "Não é papagaio. É papagaia" - disseram para a senhora. E, como tivesse se interessado muito, a família ofereceu a papagaia a ela.
Está na cara que a senhora solteirona sem nenhum bicho em casa adorou o oferecimento e carregou a papagaia para casa. Mas aí é que foi chato, pois a papagaia era levadíssima. Mal chegou à sua nova casa, começou a dizer palavrões homéricos, a citar trechos completos da última peça do Nélson Rodrígues, a recitar o diálogo de La dolce vita* e a dizer coisas horríveis sobre seus desejos incontidos.
A senhora ficou horrorizada e já ia mandar a papagaia embora quando chegou um vizinho para visitar. Soube do drama e disse: "Não há de ser nada. Eu tenho lá em casa dois papagaios comportadíssimos. Tão comportados que passam o dia rezando. Eu boto a papagaia perto dos dois e pode ser que ela se manque e fique igual a eles".
A senhora agradeceu muito e a papagaia foi.
O vizinho colocou a papagaia num poleiro entre os dois papagaios. Assim que ela se viu na parede, começou a engrossar outra vez. Foi aí que um dos papagaios abriu um olho e ficou observando. Quando ficou convencido de que a papagaia era mesmo da pá virada, cutucou o outro que continuava rezando e disse:
- Pare de rezar, companheiro, que, ou muito me engano, ou nossas preces acabam de ser atendidas.
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* La dolce vita: filme italiano de 1960 dirigido por Federico Fellini.
Fonte:
Stanislaw Ponte Preta. Gol de Padre e outras crônicas.
Stanislaw Ponte Preta. Gol de Padre e outras crônicas.
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