Há uma cantiga de outrora que diz assim: "Oxum é uma criança que esqueceu de envelhecer, mas quando ela dança, seus filhos param de sofrer. Verde é a cor de Oxossi, branco de Nanã Buruquê, Oxum bordou sua saia com a flor do amanhecer".
Oxum é a deusa das águas doces, dona do ouro. Ela também representa a sabedoria e o poder feminino, sem deixar de ser esposa de Xangô, rei justiceiro. Oxum é a protetora da família. Diante do espelho, reflete muitas personalidades, pois mulher, em sua essência, é aquela que abriga em suas entranhas múltiplas faces da vida. Sua representatividade reina na África, na Ásia, no Brasil e em Aruanda, onde nasceu para ramificar entre os seres todas as bênçãos de amor.
Numa bela tarde de verão, enquanto se refrescava à beira do rio, alguns de seus filhos foram ao seu encontro. Logo começaram a brincar ao seu redor, não resistindo ao doce encanto dos erês, mãe Oxum, logo vai participar das cirandas.
Era uma tarde serena de céu azul, sol fulgurante e cheiro de jasmim. Nessa ocasião, seu esposo Xangô, que é um juiz exemplar, viajava, fazendo a propagação da lei. O cenário era perfeito. Até que a triste imagem de uma jovem a chorar, rouba a cena.
Oxum pede às crianças que se retirem e pergunta:
- Moça, você precisa de ajuda?
A jovem chorava sem parar estava com uma péssima aparência. Cabelo desarrumado, olhos borrados de maquiagem.
- Sente–se à beira da água comigo. – disse a deusa dos rios.
- Me disseram que você aconselha pessoas perdidas.
- Aconselho todos os tipos de pessoas, mas se encontra perdida de quem, de você ou de algum familiar?
- Sinto–me perdida em todos os sentidos. Não sei quem sou. Ajude-me! – pediu a soluçar.
- Ajudo com prazer, mas antes, feche os olhos, relaxe o corpo e respire. Nesse instante, borboletas coloridas começaram a sobrevoar sobre a cabeça da moça. Oxum agradece a mensagem enviada pela natureza. E minutos depois elas começam a dialogar.
- O que aconteceu com você, meu anjo?
- Anjo, eu? Só se for um anjo decaído. – diz ela menosprezando a si própria.
- A mim pouco importa que tipo de anjo é você. Estou aqui para ouvi-la. Conte – me o seu problema.
- Eu era de uma família boa. Fui bem educada e recebi muito amor dos meus pais, mas com a chegada da adolescência, comecei a me deixar influenciar pelas más companhias, passei a desobedecer meus entes e só fazia o que me dava na cabeça, sem pensar nas consequências. Com isso, fiquei com muitos homens, mesmo sem sentir amor por nenhum deles. Até com drogas me envolvi. Achava tudo bonito, da moda. Como já era esperado, meus pais não aceitaram a realidade que escolhi viver. Então fugi de casa. Hoje sou assim, uma mendiga.
- Você se arrepende das escolhas que fez?
- Sim. Estou muito arrependida.
- Vou explicar uma coisa: nos tempos atuais, tudo parece ser permitido, mas na real, isso é um grande engano. Liberdade é uma coisa, libertinagem é outra coisa tão desigual, que sinceramente, não sei como tantas pessoas podem confundir.
"Na verdade, sei sim, apenas tenho dificuldade em aceitar. Existe um plano do qual não posso mencionar quem são os organizadores, que tem a intenção de destruir tudo o que é belo: honestidade, amizade, família. Eles manipulam as mentes das pessoas de todas as idades, principalmente dos jovens, na tentativa de convencê-los a errar sem perceber que estão caindo numa cilada. Por exemplo, os jovens não sonham mais poder encontrar um amor. Com isso, toda vez que seus corpos sentem sede de carinho, deitam-se com um novo parceiro. Muitas meninas, da adolescência até a fase adulta, já terão levado mais homens pra cama do que a maioria das prostitutas de tempos antigos levaram em seus tempos de juventude. E os meninos já terão beijado mais garotas do que Dom Juan beijou no decorrer de sua vida inteira. Aliás, Dom Juan, em comparação ao que os meninos de hoje têm aprontado pode ser comparado a um frade.
"É normal se relacionar, viver, ser feliz. O único problema em questão é a libertinagem. Isso é uma das razões da decorrente depressão entre os jovens. Seus anjos da guarda batem à porta de suas consciências, a fim de alertá-los, mas poucos ouvem."
- Quero me redimir. – disse a moça, ao ouvir a voz serena de Oxum exalando bálsamos de sabedoria.
- Procure seus pais. Recomece sua vida. Jogue rosas no rio e peça em oração ou cânticos, o amor que sua alma realmente necessita. E seja feliz. Muito feliz!
A menina se afasta. Oxum se pôs a rezar por ela. E depois volta a brincar com as crianças.
Fonte:
Texto enviado pela autora.
Texto enviado pela autora.
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