terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Estante de Livros (O Livro de Uma Sogra, de Aluísio Azevedo)


O Livro de Uma Sogra foi o último romance de Aluísio Azevedo, escrito em 1895, no Rio de Janeiro. O romance trata da vida de casada de Olímpia, uma mulher vinda de uma família tradicional, que na hora de casar a única filha, Palmira, começa a busca por um marido ideal para ela. Através de Olímpia que Azevedo discorre sobre o casamento, que é o principal tema do livro.

Dona Olímpia procura encontrar o segredo para uma vida conjugal feliz e duradoura. Para isso, ela pesquisa algumas obras que abordam o tema. Essa obra traz uma nova perspectiva ao mundo literário no século XIX e abre um novo olhar sobre o universo feminino com um ponto de vista da mulher sobre o casamento.

O romance é narrado em primeira pessoa, onde Olímpia, a sogra, que sem conhecimentos acadêmicos ou filosóficos, escreve uma tese sobre o casamento que deve ser seguida por seu genro e filha. Ela convence-se de que o mal do casamento não está na monogamia, mas no meio de exercê-la.

O livro provoca diversas emoções, sentimentos e sensações naqueles que são casados ou vivem as situações descritas. Desperta, a partir do título, curiosidade sobre o seu conteúdo; famosas são as anedotas que se contam das sogras.

Verdade ou ficção, a leitura do livro é capaz de provocar as mais conflitantes emoções naqueles que vivem a idealizar os sentimentos e as paixões.

O autor, Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, nasceu a 14 de abril de 1857, em São Luís do Maranhão, e pode ser considerado o maior representante da ficção naturalista no Brasil.

A partir da obra de Azevedo fixa-se nas letras brasileiras a preocupação com a realidade objetiva. A vida no fazer literário naturalista é representada através da ótica sistemática da ciência. A representação dos acontecimentos cotidianos e dos temperamentos preserva o tom determinista na análise, e as palavras de ordem são dissecar, documentar e observar.

Em Livro de Uma Sogra, a supremacia da natureza sobre a cultura fica demonstrada pela alusão às características físicas, biológicas e instintivas do homem separando as coisas da carne – incluídos os líquidos, odores e todos os fluidos corporais – das normas instituídas pela cultura burguesa.

O genro de Olímpia (a “sogra”) é observado como uma “espécime” de homem que satisfaz em representação fisiológica a forma material perfeita do corpo humano:

– “A conformação geral do corpo esteticamente falando, é simplesmente maravilhosa! Quando o vi nu, pensei ter defronte dos olhos uma estátua grega. Marte e Apolo fundidos, formando um homem.

Que belo conjunto de força e delicadeza anatômica! Nem sei como, com a degeneração da raça latina e com a crescente depravação dos costumes, ainda possa haver- no Brasil! um moço em semelhantes condições físicas! Verdade é que ele é de raça catalã!”

Além disso, a procriação humana é a verdadeira missão que a natureza exige de homens e mulheres: “procriar, e procriar bem”.

Estas e outras passagens fazem ver a maneira incomum que o naturalista Azevedo, através de Olímpia, utiliza para interpretar o laço matrimonial.

Também a crítica social está permeada por um pensar irônico que questiona as regras sem criticá-las, induzindo o leitor, pelas situações do texto, a desnudar a hipocrisia das convenções sociais: “O marido é sempre para a mulher uma garantia do presente e uma garantia do futuro; o amante é nada mais do que um incidente arriscado. O marido é uma conquista social; o amante é um sacrifício feito ao amor.”

Olímpia utiliza inúmeros argumentos para justificar suas ações que buscam afastar da convivência genro e filha: – “Que diabos de felicidade é então essa, que os casados aconselham a todos os seus amigos que a evitem?

Será isso egoísmo na ventura, ou falso vexame de confessar a própria desgraça?”

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