DAS IDEIAS
Qualquer ideia que te agrade,
Por isso mesmo... é tua.
O autor nada mais fez, que vestir a verdade
Que dentro em ti se achava inteiramente nua…
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DA AMIZADE ENTRE MULHERES
Dizem-se amigas... Beijam-se... Mas qual!
Haverá quem nisso creia?
Salvo se uma das duas, por sinal,
For muito velha, ou muito feia...
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DA FELICIDADE
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz!
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DA REALIDADE
O sumo bem só no ideal perdura...
Ah! Quanta vez a vida nos revela
Que "a saudade da amada criatura"
É bem melhor do que a presença dela...
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DO AMOROSO ESQUECIMENTO
Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
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DA DISCRIÇÃO
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo de teu amigo
Possui amigos também...
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DA PREGUIÇA
Suave Preguiça, que do mau-querer
E de tolices mil ao abrigo nos pões...
Por causa tua, quantas más ações
Deixei de cometer!
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DO OVO DE COLOMBO
Nos acontecimentos, sim, é que há Destino:
Nos homens, não - espuma de um segundo...
Se Colombo morresse em pequenino,
O Neves descobria o Novo Mundo!
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DO MAL DA VELHICE
Chega a velhice um dia... E a gente ainda pensa
Que vive... E adora ainda mais a vida!
Como o enfermo que em vez de dar combate à doença
Busca torná-la ainda mais comprida…
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DA MODERAÇÃO
Cuidado! Muito cuidado...
Mesmo no bom caminho urge medida e jeito.
Pois ninguém se parece tanto a um celerado
Como um santo perfeito...
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DA CALÚNIA
Sorri com tranquilidade
Quando alguém te calunia.
Quem sabe o que não seria
Se ele dissesse a verdade...
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DA EXPERIÊNCIA
A experiência de nada serve à gente.
É um médico tardio, distraído:
Põe-se a forjar receitas quando o doente
Já está perdido...
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DE COMO PERDOAR AOS INIMIGOS
Perdoas... és cristão... bem o compreendo...
E é mais cômodo, em suma.
Não desculpes, porém, coisa nenhuma,
Que eles bem sabem o que estão fazendo...
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DA CONDIÇÃO HUMANA
Se variam na casca, idêntico é o miolo,
Julguem-se embora de diversa trama:
Ninguém mais se parece a um verdadeiro tolo
Que o mais sutil dos sábios quando ama.
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DA PRÓPRIA OBRA
Exalta o Remendão seu trabalho de esteta...
Mestre Alfaiate gaba o seu corte ao freguês...
Por que motivo só não pode o Poeta
Elogiar o que fez?
Fonte:
Mário Quintana. O Espelho Mágico. Publicado originalmente em 1951.
Mário Quintana. O Espelho Mágico. Publicado originalmente em 1951.
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