quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Professor Garcia (Poemas do Meu Cantar) Trovas – 14 –

A ganância que te ilude
que te arrasta à solidão,
é a mesma falsa virtude
que esconde a luz da razão!
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Ah, se essa distância fosse
ponte, entre a nascente e a foz;
como seria mais doce
essa distância entre nós!
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A infância, é uma doce brisa;
passa logo, e de repente...
vem o outono e se eterniza
no chão da vida da gente!
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Ao vê-lo, em meio aos escombros,
a ajudá-lo, eu me propus,
sentindo o peso nos ombros
do peso daquela cruz!
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Aquele retrato antigo
que o tempo tem castigado,
conversa sempre comigo
segredos do meu passado!
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A sensação dos afetos
que recebi de meus pais...
Oferto aos filhos e netos,
por serem todos iguais!
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Busquei, na fonte de um templo,
a paz de um novo horizonte;
e achei essa paz no exemplo
que há no silêncio da fonte!…
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Cada verso que desliza
entre esses meus cegos dedos,
numa trova sintetiza
seus infinitos segredos!
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Deus mostra ao mundo insensato,
injusto, cego e sem luz...
que o infinito amor, de fato,
coube entre os braços da cruz!
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É no silêncio das noites,
na cadência dos meus ais...
que a saudade em seus açoites
quebra o silêncio da paz!
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Entre esperas e demoras,
vi passar tanta quimera!...
Que, a primavera das horas,
já nem é mais primavera!
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Essa constante ansiedade
que ao fim da tarde, caminha...
é a velha dor da saudade
que eu sinto toda tardinha!
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Exemplo bom é o exemplo,
que as almas bondosas dão,
rezando no altar do templo
pelas outras que se vão!
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Lembrando canções antigas,
de volta ao meu velho chão...
vi muitas sombras amigas
na orquestra da solidão!
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Meus dias!... Feliz por tê-los
na vida que se refaz,
no branco dos meus cabelos
aos ventos pedindo paz!
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Na estrada em que a luz palmilha,
é que a verdade se inspira;
e ante a luz que, tanto brilha,
jamais, se esconde a mentira!
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Não vi mais meus pirilampos,
poetas de luz do meu chão,
que iluminavam meus campos
nas noites de solidão!!!
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Na treva é que se carrega,
a dimensão do empecilho
da dor, que sente a mãe cega,
por não poder ver o filho!
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Num mundo de desiguais,
onde há tantos desenganos...
perde-se cada vez mais
os sentimentos humanos!
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Ousado e um tanto atrevido?
Mas confesso, e se não fosse...
jamais teria sentido
o mel de um beijo tão doce!
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Pelos teus gestos fanados,
para voltar não me peças;
sinto em teus sins, camuflados,
o olhar de falsas promessas!
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Quanta lágrima sentida
no olhar da mãe peregrina,
regando as rugas da vida
nas rugas da própria sina!
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Quanta lágrima sofrida,
e na alma, essa inquietude...
Por não ter feito na vida
tudo aquilo quanto pude!
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Se a esperança é paz no outono,
sê paciente na espera;
que a flor desperta do sono
na eclosão da primavera!
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Se a flor da infância se afasta,
crê noutras flores bondosas;
que uma flor que o vento arrasta
não rouba a vida das rosas!
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Sei que a saudade não mata,
mas provoca pranto e dor;
qualquer saudade resgata
saudosos sonhos de amor!
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Sem saber se tu me esperas,
cada verso que componho,
tem sabor das vãs quimeras
do tempero do meu sonho!
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Velho mar, meu confidente,
entre nós, tudo se arruma,
quando a queixa que se sente
vaga entre os cachos de espuma!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

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