“Todas as cartas de amor são ridículas,
não seriam cartas de amor
se não fossem ridículas”
- Fernando Pessoa
Ponto de táxi da rodoviária de cidade do interior do Paraná. Do ônibus desce um senhor comum até com ar respeitável de bom caráter.
— O senhor pode me levar neste endereço?
— Sim, sou o primeiro da fila, mas se quiser escolher um carro melhor, mais novo...
— Não, não, o seu está ótimo, cheguei de viagem de longe e estou muito cansado, será apenas uma visita...
— Aqui está , rua Porto Alegre,1086, dizia perto de um bosque.
— Esta rua agora mudou o nome. É Theobaldo Blume, nome de padre falecido num acidente!
— Vou enfim conhecer alguém muito especial e estou ansioso...
— É a primeira vez no Paraná?
— Sim, mas vou conhecer minha musa, que escreve cartas maravilhosas, sensível, uma mulher encantadora que todo homem sonha amar.
– Sei, sei, que ânimo, hein! — retruca José e olha desconfiado pelo retrovisor do Ford Corcel Del Rey.
Chegando ao endereço, o carro para a alguns metros do portão da casa de alvenaria, com enfeites de pedra São Tomé e jardim bem cuidado.
— Tá bom aqui, assim pode ter privacidade!
— Tá ótimo, meu bom homem, já volto!
Depois de apertar a campainha uma senhora, tipo idade da loba, questiona:
— Pois não! Seja breve, porque estou com bolo no forno, sim!
— Você é Sandra dos Santos?
— Sim, sou eu e o senhor que deseja?
—Vendedor de Enciclopédia Barsa...
– Não interessa… filhos já crescidos.
– Mas gosta de poesia e curte Drummond?
– Não leio muito!
Olha a mulher do semblante aos pés e dá desenxabido tchauzinho, depois esbaforido, corre de volta para o táxi ofegante:
– Vamos, vamos, taxista, de volta para a Rodoviária que quero pegar o próximo ônibus de volta pra São Paulo, nesta cidade maldita jamais colocarei os pés...
— Mas, o senhor conhece essa senhora?
— Não! Nunca tinha visto antes! Achei que fosse, pelas cartas, moça romântica e linda, que citava Drummond, Vinicius, Pessoa e...
— Quem são essas pessoas?
– Poetas, claro, já que vi que é ignaro em cultura, semi analfabeto também?
– Não precisa ofender, senão te largo na rua, seu frustrado!
Segue silêncio entre os dois homens.
– Ei, moço , estaciona naquela esquina que vou espairecer um pouco. Que droga!
Saiu correndo desesperado e entrou no bosque! Esqueceu o bauzinho no banco! Será que errei o endereço e não era a pessoa que procurava...
Ao abrir o baúzinho José encontra as cartas de amor e começa a ler…
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Conto integrante do livro Andanças pelo Mundo da Palavra (Prelo em Amazon books)
Fonte:
Texto enviado pelo autor.
Texto enviado pelo autor.
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