sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A. A. de Assis (Tio Joca)

Desde menino aprendi a gostar de poesia. Em grande parte por influência de minha mãe e do meu avô maestro. Mas penso que um pouquinho devo também a um personagem fascinante, que trabalhava no velho trem da Leopoldina Railway, no trecho entre Campos e Miracema – RJ. Os passageiros, quase todos conhecidos dele, chamavam-no Tio Joca.

Simpatia em pessoa, tinha por função percorrer os vagões picotando ou recolhendo as passagens. Não bastasse o seu generoso sorriso resistente a quaisquer humores da vida, Tio Joca, redondilheiro de truz, animava a viagem fazendo versinhos. Antes de cada estação, ele ia de ponta a ponta do trem recitando suas alegres cantigas. Tal encanto isso me despertava, que ainda hoje me lembro de algumas:

     – Quem vai pra Ernesto Machado, me dê o bilhete, e obrigado.

     – Pra São Fidélis, quem vai, dá a passagem pro papai.

     – Quem desce no Grumarim, dê a passagem pra mim.

     – Passageiros de Pureza, passagem por gentileza.

     – Quem vai para Cambuci, entregue o bilhete aqui.

     – Quem vai para Três Irmãos, passagem nas minhas mãos.

Sei lá, mas sempre desconfiei de que a influência do bom Tio Joca deveria ser estudada com maior atenção. É que naquele trenzinho maria-fumaça viajavam quase diariamente numerosos jovens que iam das fazendas para as cidades frequentar a escola. E pode ter sido bem mais do que mera coincidência o fato de muitos daqueles moços e moças terem virado poetas algum tempo depois…

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