quinta-feira, 9 de março de 2023

Afrânio Peixoto (Trovas Populares Brasileiras) – 9

Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.

A cor encarnada é guerra,
eu não venho guerrear,
venho fazer paz contigo
se me queres aceitar.
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Adeus, querida das flores,
das flores todas querida.
Não quero dizer teu nome
pra não seres conhecida.
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A folha da malva cheira,
cheira mais do que girame;
Meu coração só me pede,
só me pede que te ame.
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Ai menina, pede a Deus;
que eu pedi a São Vicente,
que nos juntem a nós dois
numa casinha sem gente.
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Alecrim, verde cheiroso,
dá-me novas de meu bem,
se ele é morto, se ele é vivo,
se está nos braços d'alguém.
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As estrelas no céu correm,
eu também quero correr.
Por causa dos dois amantes
acabou-se o bem querer.
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Benzinho te vou contar:
No domingo em que te vi
fiquei todo embelezado
das prendas que vi em ti...
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Carta, vai onde te mando.
Carta, não erres a porta;
Carta, põe-te de joelhos
e espera pela resposta.
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Coração entristecido
chega ao pé daquela flor,
perguntai-lhe assim brincando
se ela quer ser meu amor.
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Chego a perder o juízo
de tanto plano que faço:
Do que te hei de fazer,
se eu cair no teu regaço...
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Cravo branco, quando se abre
parece a coroa de um rei:
Eu comparo cravo branco
co'uma pessoa que eu sei!
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Esta noite tive um sonho,
um sonho muito atrevido.
Sonhei que tinha em meus braços
a forma do teu vestido.
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Maria me deu um cravo,
sexta-feira da paixão:
Botei o cravo no peito,
Maria no coração.
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Menina, quando eu te vejo
fico tolo e fico mudo,
tenho febre e tremores
tenho sezões, tenho tudo.
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Menina, tome este lenço
e não conte quem lhe deu;
Adiante vai o lenço,
atrás do lenço vou eu.
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Meu amor é pequenino
do tamanho de um botão,
de dia trago-o no seio,
de noite no coração.
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Meus olhos quando te viram,
meu coração te adorou,
nas correntes dos teus braços
minh'alma presa ficou.
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Moreninha, se eu pudera
formar do mundo um altar,
nele te colocaria
para o povo te adorar.
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Na estrada em que tu moras
todo o dia passo nela,
somente para te ver
sentadinha na janela.
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0 gosto não tem princípio
às vezes, não tem de quê;
Gosto de ti, porque gosto,
sem mesmo saber porquê.
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0 limão tira o fastio,
mas eu de ver não o tenho,
se tu por mim fazes gosto,
eu por ti maior empenho.
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0 marmelo é fruta boa
se está no seu galho posto.
Ninguém me pode privar
de amor que for do meu gosto.
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Pancada dada de jeito
mata sim, sem discussão.
Que farás tu, meu benzinho,
tu que és um pancadão?
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Para amar e possuir
é preciso não ter medo:
Custei a me resolver
fiquei chuchando no dedo...
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Por te querer tanto bem
Deus me há de castigar,
por te trazer no meu peito
no mais mimoso lugar.
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Quando existe sentimento
logo a vista se revela:
Tua alma está nos teus olhos,
debruçada na janela.
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Quando te encontro na igreja
me ponho logo a pecar...
Tenho o sentido em teu rosto,
viro as costas pra o altar.
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Quero dizer-te o que sinto,
que és minha vida, meu tudo:
Quando chego ao pé de ti
perco a língua, fico mudo...
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Rei nasce para o seu trono,
os peixinhos para o mar,
eu também nasci no mundo
somente pra te adorar.
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Se correndo não te apanho,
devagar te apanharei;
Se te apanho nos meus braços
em que estado te porei!...
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Se eu soubesse, com certeza,
que tu me querias bem,
eu iria te tirar
do poder de quem te tem.
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Ter amores neste mundo
só quero, meu bem, contigo:
Quero saber a resposta
se também queres comigo.
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Tudo que nasce no mundo
tem seu fim particular;
Tudo tem o seu destino,
eu nasci para te amar.
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Tu és como a lua cheia,
és como a casa caiada,
és como a torre da igreja,
de toda a parte avistada.

Fonte:
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.
Disponível em Domínio Público.

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