sexta-feira, 31 de março de 2023

Afrânio Peixoto (Trovas Populares Brasileiras) – 10

Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.


Ah, meu bem se eu não te amo
Deus do céu que não me escute,
o sol que não me alumie
nem a terra me sepulte.
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Amarrei o sol com a lua,
com a fita da verdade,
para arriscar minha vida,
pra te fazer a vontade.
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Amor, se fordes, levai-me,
se ficardes, ficarei,
se não, meu amor matai-me,
que viver sem vós não sei.
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As estrelas do céu correm,
eu também quero correr;
Elas correm atrás da lua,
eu atrás do bem querer.
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As estrelas do céu fogem,
se a luz do sol aparece.
Menina, junto de ti,
o próprio sol desmerece.
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As estrelinhas são pontos
e a lua cheia novelo,
para bordar o teu nome
nas letras do sete-estrelo...
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Até onde as nuvens giram
vão meus suspiros parar.
Só tu, pertinho de mim,
não me ouves suspirar.
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Cazuzinha, estais de luto,
dizei-me quem vos morreu,
se foi por causa de amores
Cazuzinha, aqui estou eu.
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Inda que teu pai não queira,
tua mãe diga que não,
tu querendo, e eu querendo,
tudo está na nossa mão.
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Jura o sol e jura a lua.
Juram as estrelas também.
Juramos de te adorar
a ti só, e a mais ninguém.
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Menina diga a seu pai,
e ele diga a quem quiser,
que ele há de ser meu sogro
e você minha mulher.
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Menina dos olhos grandes
não olhes pra mim chorando,
tu pensas que eu não te quero,
e eu estou te namorando.
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Menina, minha menina,
põe a mão nas sobrancelhas,
que do céu te estão caindo
rosas brancas e vermelhas.
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Menina, rainha menina
hei de te matar a tiro,
com a garrucha da saudade,
com a bala do suspiro.
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Meu balaio de costura
tem um segredo no fundo.
Queira-me bem que desprezo
querer-me mal todo o mundo.
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Minha prima Mariquinha,
meu amor, minha paixão,
serei teu pra toda a vida,
quer teu pai queira, quer não.
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0 sol prometeu à lua
uma fita de mil cores;
Quando o sol promete prenda,
quanto mais quem tem amores.
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Os sinais desse teu rosto
são como um céu estrelado,
por eles passeio a vista,
nunca me dou por cansado.
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Parece que tu tens isca,
amor, neste teu agrado,
quando eu penso que estou livre
é ali que estou fisgado.
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Pode o céu produzir flores,
a terra estrelas criar?
Como pode um coração
viver sem te adorar ?
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Quando eu vim para esta terra
trouxe uma estrela por guia,
porque soube que aqui estava
a prenda que eu mais queria.
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Quando me ponho a querer,
não faço conta em ninguém,
venha do céu o remédio,
tu mesma hás de ser meu bem,
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Quando olho para a noite
cuido ver tua almofada:
Vejo alfinetes e bilros
e o céu é a renda lavrada...
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Tenho inveja de tua cama
e inveja de tua roupa,
eles se gozam de ti
e eu faço cruzes na boca.
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Tu és clara que nem leite,
corada que nem romã,
pareces a estrela d'alva
quando sai pela manhã.
= = = = = = = = = 
Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.

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