A lua, em noite escampada,
na orquestra que Deus conduz,
seguindo a pauta da estrada,
é uma sonata de luz.
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A luz do dia esmorece...
O amarelo perde a cor...
A Deus se eleva uma prece
dos lábios de cada flor.
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A noite lança uma seta,
pois, caçadora, é o seu fado.
E a tarde cai, rubra e quieta,
qual pássaro ensanguentado.
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A Noite - mulher mistério -
enfeita-se com desvelos,
e as joias do seu império
prende aos compridos cabelos.
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A noite serena e pura,
no seu eterno fadário,
recolhida na clausura,
faz de estrelas seu rosário.
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As árvores, num abraço,
temendo cair ao chão,
juntam as copas no espaço,
pedindo ao céu proteção.
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Cabeça revolta, inquieta,
que se volta para o céu...
Esse coqueiro é um poeta,
fazendo versos ao léu!
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Celulose renascida,
o livro vem da floresta;
como árvore da vida,
vibra, reclama, protesta!
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Com o crescer das queimadas,
não é muito o que nos resta:
braços hirtos, mãos crispadas...
- são os galhos na floresta!
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Deus, que fez a noite e o dia
a um toque de Sua mão,
pôs também poesia,
o sopro da inspiração.
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Inquieto, pairando apenas,
o colibri em seu afã
é uma linda flor de penas
junto ao seio da manhã!
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Lentamente a tarde desce,
envolta num céu lilás.
Da terra sobe uma prece
para no mundo haver paz.
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O carro de bois dolente
canta e geme em seu labor...
Assim o peito da gente
quando faz versos de amor!
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O céu, à noite, nos campos,
é um tablado original,
onde bailam pirilampos
e estrelas, num festival!
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O livro é um amigo mudo,
que nos pode compreender.
Revela em silêncio tudo
que precisamos saber.
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O luar, lascivo e amante,
abre o vestido da mata,
e em seu corpo exuberante
passeia os dedos de prata...
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O outono, em seus esplendores,
troca, da mata, a roupagem:
desfaz o manto de flores
e põe frutos na paisagem.
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Passarinhos, em sonata,
fazem festa no arrebol,
quando despertam a mata
para os afagos do sol!
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Plantem árvores, crianças!
Cresçam com elas, felizes,
cheias de vida e esperanças,
porém firmes nas raízes!
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Pode o livro ser tesouro
que alguém garimpou por nós;
é o amigo imorredouro,
que não fala, mas tem voz!
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Por mais que o destino rude
ponha alguém a dura prova.
quando se tem juventude
sempre a vida se renova!
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Quando a lua abre seu cofre
de moedas pelo chão,
o sonhador que ama e sofre,
quer todas em sua mão.
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Quando a noite se faz dia
e os sonhos fogem velozes,
há uma luz que se irradia
no eco de muitas vozes.
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Quando o sono se faz nada
nos olhos brancos da noite,
os dedos da madrugada
empunham seu velho açoite.
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Sem vitória nem torcida,
na grande quadra do céu,
a lua é bola perdida
que ficou jogada ao léu.
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Último alento... o céu arde
e queima o ar transparente.
Morre, exangue, a débil tarde,
nos braços do sol poente...
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Fonte:
Enviado pela Trovadora.
CAVALHEIRO, Maria Thereza. Trovas para refletir. SP: Edição do Autor, 2009.
Enviado pela Trovadora.
CAVALHEIRO, Maria Thereza. Trovas para refletir. SP: Edição do Autor, 2009.
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