No começo, eles me incentivavam. Eu não fazia as coisas bem certas, mas eles achavam graça. E diziam que eu estava melhorando. Fui aprendendo devagar. E eles me davam de presente mais e mais. Eu era pequeno. Nem notei que estava me viciando. Fui crescendo e, quando vi, não conseguia mais dominar o vício. Cheguei ao ponto de deixar de comer para gastar o pouco dinheiro que tinha para aliviar os meus desejos. Fiquei adulto, com vontade própria e personalidade forte para tudo. Menos para me livrar deste vício...
Hoje, já maduro e encaminhado na vida, me vejo fazendo aquilo que faziam comigo: tentando colocar neste mesmo vício as criaturas de todas as idades. Crianças, jovens, adultos e até idosos. Sempre que posso, eu tento passar um pouco do meu vício. Sempre que posso, eu tento convencer as pessoas que a vida fica mais leve e mais colorida com o uso deste produto que, embora meio caro, é vital para quem quer viajar sem sair do lugar. Eu, um viciado, tentando viciar outras pessoas.
E vocês sabem quem colocou este vício na minha vida? Pois foram os meus próprios pais. Foram eles que vibraram desde o momento em que eu aprendi a juntar as primeiras letras. Foram eles que me presentearam quando eu consegui decifrar as primeiras palavras num exemplar do Correio do Povo. Foram eles que me deram os primeiros livros infantis e os primeiros gibis de adolescente. Foram eles que me viciaram na leitura...
Sou completamente viciado na leitura. Prefiro passar sem me alimentar do que ficar sem ler. Leio tudo o que me cai nas mãos, desde os jornais do dia até a bula do remédio. Leio livros de todos os autores, clássicos, novos, nacionais, estrangeiros, revistas, jornais velhos e o que aparecer. Compro livros novos, usados, passados e até na fila para serem impressos. Sou um leitor compulsivo. É por isso que eu fico quase louco quando entro numa biblioteca ou quando visito uma feira do livro. Eu gostaria de poder devorar o conteúdo de todos os livros que os meus olhos alcançam. Como não posso fazer isso, sigo mantendo o meu vício com aqueles livros que consigo comprar ou aqueles que os meus amigos, penalizados, me emprestam. Nunca vou me livrar deste vício. Aliás, nem quero…
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