Nota: Existem algumas versões em várias regiões da Nicarágua sobre barcos que navegam sem nunca encontrar o porto. Narrado por uma mulher do povoado de Zapatera, em 1930, este relato pertence a Pablo Antonio Cuadra, um dos escritores nicaraguenses mais conhecidos da atualidade. Tem uma vasta obra em verso, dirigiu várias publicações, como a revista El Pez y la Serpiente. Este conto foi publicado pela primeira vez em seu livro Esos Rostros Que Asoman en la Multitud (Esses rostos que aparecem na multidão).
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Contam que muito, mas muito tempo atrás, uma lancha estava cruzando de Granada a São Carlos e, quando contornava a Ilha Redonda, recebeu sinais de socorro feitos com um lençol.
Então dirigiu-se para lá.
Ao desembarcar, os tripulantes ouviram apenas lamentos de dor. As duas famílias que viviam na ilha, desde os idosos até as crianças, estavam morrendo envenenadas. Haviam comido uma rês que morrera picada por uma cobra venenosa.
– Levem-nos para Granada, pelo amor de Deus! – suplicaram.
– E quem paga a viagem? – perguntou o capitão.
– Não temos nem um centavo – responderam os envenenados –, mas pagamos com lenha, com bananas.
– E quem vai cortar a lenha? Quem vai colher as bananas? – indagaram os marinheiros.
– Estou levando uma vara de porcos a Los Chiles e, se não ficar atento, os animais morrerão sufocados – lembrou o capitão.
– Mas nós somos gente! – argumentaram os moribundos.
– Nós também! – replicaram os barqueiros – E ganhamos a vida com isso.
– Mas, meu Deus! – gritou então o mais antigo morador da ilha. – Não veem que, se nos deixarem aqui, nos entregarão à morte?
– Lamento, mas temos compromissos. – ponderou o capitão.
E voltou ao barco com os marinheiros, sem sentir a menor pena daquela gente, nem mesmo vendo como os coitados se contorciam.
E lá ficaram eles. Mas uma velhinha levantou-se imediatamente do catre e, gritando o mais que pôde, lançou-lhes uma maldição:
– Que se feche o lago para eles, assim como nos fecharam o seu coração!
A lancha partiu, afastou-se pelas altas águas do lago a caminho de São Carlos e se perdeu.
Assim contam. Nunca mais avistaram terra. Não podem ver as montanhas nem as estrelas. Há anos, dizem, séculos que estão perdidos. O barco já está negro, as velas podres, e o cordame arrebentado.
Muita gente do lago os tem visto. Topam nas altas águas com o barco negro, e os marinheiros, barbudos e esfarrapados, gritam:
– Onde fica São Carlos?
– Onde fica Granada?
...Mas o vento os leva e não conseguem avistar terra. Foram amaldiçoados.
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Contam que muito, mas muito tempo atrás, uma lancha estava cruzando de Granada a São Carlos e, quando contornava a Ilha Redonda, recebeu sinais de socorro feitos com um lençol.
Então dirigiu-se para lá.
Ao desembarcar, os tripulantes ouviram apenas lamentos de dor. As duas famílias que viviam na ilha, desde os idosos até as crianças, estavam morrendo envenenadas. Haviam comido uma rês que morrera picada por uma cobra venenosa.
– Levem-nos para Granada, pelo amor de Deus! – suplicaram.
– E quem paga a viagem? – perguntou o capitão.
– Não temos nem um centavo – responderam os envenenados –, mas pagamos com lenha, com bananas.
– E quem vai cortar a lenha? Quem vai colher as bananas? – indagaram os marinheiros.
– Estou levando uma vara de porcos a Los Chiles e, se não ficar atento, os animais morrerão sufocados – lembrou o capitão.
– Mas nós somos gente! – argumentaram os moribundos.
– Nós também! – replicaram os barqueiros – E ganhamos a vida com isso.
– Mas, meu Deus! – gritou então o mais antigo morador da ilha. – Não veem que, se nos deixarem aqui, nos entregarão à morte?
– Lamento, mas temos compromissos. – ponderou o capitão.
E voltou ao barco com os marinheiros, sem sentir a menor pena daquela gente, nem mesmo vendo como os coitados se contorciam.
E lá ficaram eles. Mas uma velhinha levantou-se imediatamente do catre e, gritando o mais que pôde, lançou-lhes uma maldição:
– Que se feche o lago para eles, assim como nos fecharam o seu coração!
A lancha partiu, afastou-se pelas altas águas do lago a caminho de São Carlos e se perdeu.
Assim contam. Nunca mais avistaram terra. Não podem ver as montanhas nem as estrelas. Há anos, dizem, séculos que estão perdidos. O barco já está negro, as velas podres, e o cordame arrebentado.
Muita gente do lago os tem visto. Topam nas altas águas com o barco negro, e os marinheiros, barbudos e esfarrapados, gritam:
– Onde fica São Carlos?
– Onde fica Granada?
...Mas o vento os leva e não conseguem avistar terra. Foram amaldiçoados.
Fonte:
Ruth Guimarães e outros. Mitos, contos e lendas da América Latina e do Caribe. Ed. Melhoramentos.
Ruth Guimarães e outros. Mitos, contos e lendas da América Latina e do Caribe. Ed. Melhoramentos.
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