ADIANTE...
Nada dizes. São apenas os olhos
que nos revelam, sem o flagrante da palavra,
a necessidade da voz...
... e intimamente vamos compreendendo
que este amor não pode
terminar em nós…
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ALGUÉM
Contigo ao meu lado,
não sou apenas um homem feliz,
sou alguém capaz de amar a vida,
de reconciliar-me com as coisas,
alguém capaz de existir,
de se sentir alguém...
Sem ti, não sou ninguém.
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AMOR
E nunca chegamos ao fim da taça,
por mais que a esvaziemos.
Agora,
sei que isto é amor.
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ANTES... E DEPOIS...
Quando nos encontramos,
teus olhos estão cheios de nuvens,
como os altos cumes...
Subo à tua procura, e me perco, e me cego sem paisagem,
enquanto o amor me fustiga como um vento das alturas...
Depois,
quando voltas a me olhar,
teus olhos estão limpos e puros,
sem uma nuvem sequer,
e eu te posso descortinar até o horizonte…
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APELO
Apelei para o céu, para o mar, para as nuvens,
para as flores,
queria encontrar a imagem deste amor,
descrever a emoção que me perturba tanto
e que me esfria as mãos...
Para a poesia apelei...
Colhi apenas palavras... E diante do meu fracasso
tomei-te nos braços, e silenciei.
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AS DUAS FACES
Quando te aperto contra mim
quando te beijo,
percebo que este amor é assim
como uma mistura
de ternura
e desejo,
que não tem fim...
Às vezes, tenho vontade de tomar-te entre as mãos
com a humildade e a pureza de um crente
a desfiar um terço,
tenho vontade de te embalar docemente
com esse cuidado de alguém que embalança
num berço
uma criança...
E logo após, ímpetos de te amar,
de te querer e beijar
com volúpias de fogo
e carícias de chama,
como desesperadamente a gente quer
e beija,
uma mulher
que se ama,
se deseja...
Mistura
de ternura e desejo,
de mansa ternura
e desejo violento,
mistura
de morno carinho
e voluptuoso calor,
- às vezes te quero como uma criança...
- outras vezes, como um louco, um doente
de amor!
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ASPERSÃO
Sinto uma íntima necessidade
de que todos participem da minha felicidade...
Gostaria que todos soubessem de ti...
E eu falaria de ti como se fala da beleza
da poesia, do mar, das flores, das crianças,
do amor...
Mas, oh supremo egoísmo! Sigo em silêncio
e me submerjo em meu pensamento,
por ciúme... ou pudor…
Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. A sós. 1. ed. 1958.
J. G. de Araújo Jorge. A sós. 1. ed. 1958.
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