Ontem, domingo, o calor e a mania ambulatória não me permitiram ficar em casa. Saí e vim aos lugares em que um "homem das multidões" pode andar aos domingos. Julgava que essa história de piqueniques não fosse mais binocular; o meu engano, porém, ficou demonstrado.
No Largo da Carioca havia dois ou três bondes especiais e damas e cavalheiros, das mais chiques rodas, esvoaçavam pela Galeria Cruzeiro, à espera da hora. Elas, as damas, vinham todas vestidas com as mais caras confecções ali do Ferreira, do Palais, ou do nobre Ramalho Ortigão, do Pare, e ensaiavam sorrisos como se fossem para Versalhes nos bons tempos da realeza francesa.
Eu pensei que uma pasmosa riqueza tinha abatido sobre o Ameno Resedá ou sobre a "Corbeille des Fleurs" do nosso camarada Lourenço Cunha; mas estudei melhor as fisionomias e recebi a confirmação de que se tratava de damas binoculares, que iam a uma festa hípica, ou quer que seja, no Jardim Botânico.
Não é de estranhar que as pessoas binoculares vão a festas e piqueniques, mas assim, charanga à porta, a puxar o cortejo com um dobrado saltitante, julgo eu que não é da mais refinada elegância.
O Binóculo deve olhar para esse fato; deve procurar por um pouco mais de proporção, de discrição nessas manifestações festivas da nossa grande roda aos cavalos de corridas; e ele tem tanto trabalho para o refinamento da nossa sociedade que não pode esquecer esse ponto.
Imagino que em Paris ou Londres os dez mil de cima não dão aos "rotos" esse espetáculo de tão flagrante mau gosto.
Não posso compreender como a elegante Mme. Bulhões Sylvá, toda lida e saída nas revistas, jornais e livros do bom tom, que tem o “Don’t” de cor, como o Senhor Aurelino o Código Penal, saia de manhã de casa, meta-se num bonde em companhia de pessoas mais ou menos desconhecidas e vá pelas ruas do Rio de Janeiro afora, ao som de uma charanga que repinica uma polca chorosa de muito rancho carnavalesco.
No Largo da Carioca havia dois ou três bondes especiais e damas e cavalheiros, das mais chiques rodas, esvoaçavam pela Galeria Cruzeiro, à espera da hora. Elas, as damas, vinham todas vestidas com as mais caras confecções ali do Ferreira, do Palais, ou do nobre Ramalho Ortigão, do Pare, e ensaiavam sorrisos como se fossem para Versalhes nos bons tempos da realeza francesa.
Eu pensei que uma pasmosa riqueza tinha abatido sobre o Ameno Resedá ou sobre a "Corbeille des Fleurs" do nosso camarada Lourenço Cunha; mas estudei melhor as fisionomias e recebi a confirmação de que se tratava de damas binoculares, que iam a uma festa hípica, ou quer que seja, no Jardim Botânico.
Não é de estranhar que as pessoas binoculares vão a festas e piqueniques, mas assim, charanga à porta, a puxar o cortejo com um dobrado saltitante, julgo eu que não é da mais refinada elegância.
O Binóculo deve olhar para esse fato; deve procurar por um pouco mais de proporção, de discrição nessas manifestações festivas da nossa grande roda aos cavalos de corridas; e ele tem tanto trabalho para o refinamento da nossa sociedade que não pode esquecer esse ponto.
Imagino que em Paris ou Londres os dez mil de cima não dão aos "rotos" esse espetáculo de tão flagrante mau gosto.
Não posso compreender como a elegante Mme. Bulhões Sylvá, toda lida e saída nas revistas, jornais e livros do bom tom, que tem o “Don’t” de cor, como o Senhor Aurelino o Código Penal, saia de manhã de casa, meta-se num bonde em companhia de pessoas mais ou menos desconhecidas e vá pelas ruas do Rio de Janeiro afora, ao som de uma charanga que repinica uma polca chorosa de muito rancho carnavalesco.
Fonte: Originalmente no Correio da Noite, 11 de janeiro de 1915. Disponível em Domínio Público.
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