Se foi esse o desgosto que matou Dona Benvinda, ninguém sabe: o que é fato, é que o sr. Atanásio tinha uma predileção especial pelas bebidas, a ponto de passar semanas inteiras emendando as carraspanas.
O que, entretanto, ninguém pode contestar, é que ele adorava a mulher. É verdade que não a obedecia, quando ela lhe suplicava, agarrando-lhe as mãos:
— Não bebas mais, Atanásio! Tem piedade de mim! Isto me matará de vergonha!
As pessoas que ouviam isto asseguravam que Dona Benvinda morreu, mesmo, de vergonha; outras acham, porém, que foi de umas pauladas que o marido lhe aplicou, ao regressar, alta madrugada, mais bêbado do que nunca.
O sentimento de viúvo foi, entretanto, profundíssimo. Um fato o demonstra.
Certa noite, entrou ele, com um antigo companheiro, em uma das cervejarias da Brahma, e sentou-se:
— Que tomas? - perguntou o outro.
— Nada.
— Nada? Tu não tomas nada?
— Não posso, filho! - obtemperou o Atanásio. - Eu não posso beber; tu não vês que eu estou de luto?
— Mas, isso é o de menos! - tornou o outro. Há bebidas, aqui, para pessoas de luto.
E batendo na mesa, com força:
— Cerveja preta, para um!...
Fonte: Humberto de Campos. Grãos de mostarda. Publicado originalmente em 1926. Disponível em Domínio Público.
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