Com exceção da terça-feira, todos os dias salto da cama às 5h45. Às 6h00, dou uma olhada rápida nas notícias da Internet. Depois saio para a Catedral onde procuro, na oração da manhã, juntar fé e vida. Vez por outra surge um informe interessante, embora incapaz de mudar o rumo do nosso mundo sem juízo. Como a nota, outro dia, da volta à fabricação, nos Estados Unidos, do LP (long playing record), que a meninada nem sabe o que é. Sobrevive entre nós quem prefira os antigos “bolachões” tocados na radiola, pickup, radiovitrola, toca-discos ou, simplesmente, vitrola. Diz que o som é mais fiel que o do CD, DVD, Mp3 ou de outras invenções que desisti de acompanhar. E eu que julgava um transtorno acomodar meus 700 LP perfeitos, sem arranhão nenhum! Tive o bom senso de não me desfazer também do pickup Polyvox, da potência Akai e das caixas Celebration. Podem considerar-me o zelador de algum museu, não ligo. Importante é que funcionam que dá gosto.
Gostei de ler (DNP, 13/07/2014, Cultura, pág. D1) que Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, de 1967, é o primeiro dos 200 álbuns do Rock and Roll Hall of Fame. Tenho esse CD. Um pouco mais, a cada dia que passa, sinto-me um papalvo a discursar para sobreviventes de outras eras. Trato de coisas que ninguém mais vê. Deixaram de existir. Ou, quem sabe, nem tenham existido realmente; eu é que sonhei com elas. Eu e uns poucos tolos iguais a mim.
Estudantes de Filosofia, em 1961, Padre Almeida e eu estivemos num encontro de seminaristas dirigido por Dom Luiz do Amaral Mousinho, arcebispo de Ribeirão Preto. O evento inaugurou o seminário construído em Brodósqui, cidade natal de Cândido Portinari. Um prédio imenso, tinindo de novo, acolheu jovens da Filosofia e da Teologia de muitas partes do Brasil. Inclusive três caipiras do Norte do Paraná: nós e, Rinaldo Semprebom, de Londrina, já cursando Teologia.
Era um tempo de grande agitação de ideias. No meio eclesiástico, tradicionalistas e progressistas sustentavam discussões candentes e intermináveis. Pernambucano arretado e culto, dono de grande amor à Igreja, Dom Mousinho movia-se com liberdade nesse campo minado. Numa das palestras discorreu sobre dois pensadores católicos situados em campos opostos: o ultraconservador Gustavo Corção e o progressista Tristão de Athayde, pseudônimo de Alceu Amoroso Lima. Com aquela verve nordestina, encerrou o assunto matando a pau: “Nem o novo porque é novo, nem o velho porque é velho; mas a verdade porque é verdade, e o santo porque é santo”.
Mais de cinquenta anos passados, não consegui esquecer. E me esforço por levar a lição à prática. Gente existe que consagrou o tempo como critério de verdade. Só admite como válido o que acabou de sair do forno.
Alguém lembra a música de Marcos Valle (1971) “Não confie em ninguém com mais de 30 anos”? Pois é a canção levada ao pé da letra. Faz sentido acatar uma pessoa, uma ideia, um modo de agir unicamente por ela (e) ser moderna (o)? Há antiguidades que continuam, por inteiro, atuais. Inclusive benéficas. Andar a pé, por exemplo. O inverso também acontece. Também se encontra quem odeia o que é moderno. Será insegurança? A verdade está acima de tudo. Independe do nosso gosto, preferência, escolha ou simpatia. Ela impõe-se por aquilo que é em si mesma. Não porque nos garanta prazer, lucro ou prestígio social.
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