domingo, 15 de outubro de 2023

Luiz Damo (Trovas do Sul) XLIX


Às vezes, nos deparamos
com barreiras nos caminhos,
porque aquilo que esperamos
são flores e nunca espinhos.
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A vida, na finitude,
o seu fim é Deus quem sabe,
mas o homem, querendo mude,
antes que o tempo se acabe.
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Cessa à tarde, a luz e invade,
sobre a relva, um denso véu,
encobrindo toda a herdade,
com sombras vindas do céu.
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Deus deixou sua mensagem,
que os povos não vivam sós,
fez o homem à sua imagem
para ser seu porta-voz.
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Distinga o joio do trigo,
deixe a justiça ser feita,
jamais impute um castigo
antes que ocorra a colheita.
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Enquanto avanças e fores
plantando com persistência,
porás no lugar das flores
os frutos da experiência.
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Equivoca-se ao julgar
quem seguir as aparências,
pode a evidência enganar
e instar novas diligências.
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Escuto, em tom de respeito,
preito que à paz corrobora,
porém, se eu não for aceito,
peço vênia e vou-me embora.
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Impedir que o tempo passe
não passa de uma utopia,
mesmo havendo quem tentasse
num crasso engodo, estaria.
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Não mude a topografia
que à natureza se encrava,
nem por luxo ou covardia
explore-a tornando-a escrava.
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Não tem igual sofrimento
que estar sem a liberdade,
a prisão dura um momento
e a dor, toda a eternidade.
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Nenhuma pedra atravanque
teus passos, na caminhada
e nenhum espinho estanque
a esperança da chegada.
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Ninguém tem maior amor
do quem dá a vida aos irmãos,
seja na alegria ou dor
bem sabe estender as mãos.
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O amargo do chimarrão
faz parte de uma cultura,
que o Gaúcho, à tradição,
toma-o com garbo e doçura.
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O ano passa e pede espaço
para entrar seu sucessor
num adeus, o mesmo abraço
dado pelo antecessor.
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O embate, quando se acirra,
nos campos do antagonismo,
torna o combate uma pira
que arde no fundo do abismo.
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O falso brilho conspira
contra as luzes da verdade,
pois, na verdade, a mentira,
é sombra da falsidade.
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Passam as horas dos dias
e os dias do mês, também,
muitas, cheias de alegrias,
outras, vazias no além.
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Quem buscar na natureza
a flor que o tempo levou,
sente, na brisa, a leveza,
do aroma que ela deixou.
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Quem não decifra o lugar
que represente a chegada,
se longe, ou for devagar,
pode acabar pela estrada.
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Quem não tem pressa a chegar
no destino ou fim da estrada,
não cansa, mas devagar,
há de tardar a chegada.
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Se a fonte d'água estiver
longe do alcance da mão
e a sede, tréguas não der,
busque outra na imediação.
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Se a semente não morrer
num solo bem preparado,
não tem como florescer,
nem ter o fruto esperado,
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Se a vida não for aquela
que sonhei nunca ter fim,
para torná-la mais bela,
depende apenas de mim.
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Se o fim do poço alcançares
e entrares na estreita fenda,
menor chance tens de içares
ao topo, em árdua contenda.
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Se, por cepo entendo um toco,
de um velho tronco tombado,
quiçá, esteja tendo o troco,
de um comportamento errado.
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Fonte: Luiz Damo. As faces da trova. Caxias do Sul/RS: Ed. do Autor, 2021. Enviado pelo autor.

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