Joana sentada no parque observava as crianças brincarem. Uma em particular, chamou sua atenção. Tinha no máximo dois anos, pele clara com os cabelos cheios de cachinhos que conforme os reflexos do sol brilhavam intensamente, como raios dourados. Seu sorriso denuncia a ausência de alguns dentes. Corria com as pernas meio trôpegas, meio sem equilíbrio, atrás das crianças maiores. Quem a visse ali naquele momento acharia que se tratava de uma mãe atenta observando os filhos brincarem. Não era o caso de Joana, que perdida em suas lembranças, olhava para a menina de cabelos dourados. Agora sem realmente enxerga-la.
Quatro anos, era a idade que sua pequena Ana teria, se tivesse sobrevivido àquela fatalidade da natureza. Joana estava com vinte e oito anos, quando descobriu que estava grávida. Foi uma alegria tremenda, pois, haviam planejado aquele momento com o maior carinho. Estava com uma carreira brilhante como advogada, seu marido Lucas tinha um escritório onde era contador; e aos poucos prosperava.
Tudo caminhava muito bem até o dia fatal.
Naquela manhã havia marcado uma consulta onde realizaria sua primeira ultra-sonografia. Estava na maior expectativa, pois talvez com sorte houvesse chance de ver o sexo do bebê. Entrou no consultório muito empolgada. A enfermeira deu as instruções, para prepará-la para o exame. O médico era um velho amigo e também seu ginecologista. Este confirmou seu tempo de gestação, estava grávida de 22 semanas. No meio do exame ela percebeu que uma lágrima escorria no rosto do homem, imaginou que era a emoção de ver uma criança em seu pleno desenvolvimento.
- Lamento Joana, - começou o médico - não existe uma maneira delicada de falar, nem tão pouco posso te dar esperanças. - o profissional parou por alguns instantes, como se buscasse palavras adequadas para prosseguir.
A mulher não entendia o que estava acontecendo.
- Seja mais claro, por favor... - pediu ela num fio de voz, enquanto temia pelo o que viria. Mas nem em um milhão de anos estaria preparada para ouvir a noticia que sucedeu.
- Infelizmente seu bebê tem Anencefalia. É um defeito congênito, que se desenvolve bem no inicio da formação do feto.
Naquele momento seu mundo desmoronou. Lucas não proferiu uma palavra. Um silencio mortal se fez no consultório. Percebendo que os pais da criança precisavam absorver o impacto da noticia, o velho médico pediu licença, a qual ninguém ouviu, e saiu.
- Muitas crianças com anencefalia morrem intra-útero ou durante o parto. Explicou o médico que tinha noção que aquela família não precisava no momento de explicação, mas infelizmente eram os ossos do oficio.
- Você pode optar pelo aborto, pode tentar conseguir uma liminar na justiça, pedindo a antecipação do parto. Em minha opinião, será mais dolorido e constrangedor um processo, mas apenas cabe a vocês esta difícil decisão.
O casal saiu da clínica como se estivesse em transe ou até mesmo dopado. Fizeram o trajeto para casa completamente escravizados pelos pensamentos doloridos que povoavam suas mentes.
Não estavam preparados para ouvir aquela notícia. Tinham como certo que seu filho seria completamente saudável.
Já em casa Joana olhou o semblante abatido do marido, notou que chorava copiosamente. Quis pedir para que se acalmasse, mas não sentiu coragem suficiente para abrir a boca. De súbito a dor veio, como se apenas naquele momento estivesse dando conta da delicada situação que ambos se encontravam. Abraçados, as lágrimas se misturavam, em uma mesma agonia. Depois de superarem o primeiro choque ambos se olharam com a pergunta muda no olhar: E agora?
Sabiam que era menina, decidiram que se chamaria Ana.
Eram inteligentes o bastante para saberem que aquele caso, em si, não existia meio termo. Os dois nunca foram a favor do aborto, e por mais que fosse dolorido, iriam com aquele ser até o fim... Sabiam que de uma forma ou de outra Deus a levaria, resolveram então curtir os momentos que teriam com Ana.Se esforçariam em mostrar o quanto ela era amada e desejada.
Para eles, ter aquela filha era uma alegria divina, um grande diamante, o grande tesouro da vida, amor era tudo por mais que fosse por pouco tempo.
Joana acabara de completar 23 semanas de gestação, sentia muito medo por não sentir seu bebê mexer. Foi abençoada dois dias depois com o primeiro movimento. Ela sentiu-se fazendo parte de um milagre. Em êxtase, ligou para Lucas que foi logo para a casa para comemorar com a esposa. Cada vez que a pequena Ana dava um forte chute, ambos se deliciavam e um grande amor palpitava em seus corações. Amavam cada movimento da filha porque sabiam que significava mais um dia juntos.
A mãe dedicava a maior parte do tempo contando à filha os sonhos e planos que havia desejado a ela, acariciava o ventre redondo tentando transmitir para Ana apenas vibrações positivas.
Quando sentia que o bebê estava agitado, Lucas dedilhava o violão e Joana se punha a cantar. Cantava com a alma e o coração. Juntos percebiam que a “nenê” logo ficava mais relaxada, e ambos riam diante da sincronia que existia entre eles.
Às vezes o casal ficava deprimido, pois sabia que cada minuto que passava era um tempo a menos junto da filha. Logo tentavam se animar para não transmitir a dor que sentiam cada vez que pensavam no fim.
Foi em uma manhã de chuva que Joana era o último dia junto de Ana.
O parto não poderia ser de maneira natural uma vez que o cérebro estava faltando e os hormônios responsáveis não foram gerados, teria de ser induzido. O médico havia sugerido que esperassem até as trinta e oito semanas.
Na sala de parto, sentia-se bem aparentemente. Mas dentro de si permanecia uma batalha. O temor e a preocupação chegavam a causar náuseas.
Pôs-se a pedir, com todo o fervor de que era capaz, a Deus, forças para enfrentar o que estava por vir. E como em um passe de mágica, tudo foi embora, dor, medo, pesar... Na sala instalou-se uma paz quase papável.
Como em câmera lenta sua filha veio ao mundo. Ela não chora de início, mas logo depois um leve som sai de seus lábios pequenos. Ela estava viva! O mundo pára de girar naquele momento, a única coisa importante é Ana. E cada segundo que Lucas e Joana ficam junto com a filha é precioso e sagrado.
Ela é tão pequenina! Podia ter uma deformação, mas para Joana ela era sua filha querida.
Parecia-se muito com o pai, percebeu ela. Mas trazia na pequena mãozinha uma marca igual à mãe tinha no mesmo local. Gostaria de pedir a Deus que a deixasse, mas sabia que não tinha esse direito. Olhando para a pequena em seus braços, Joana a achou semelhante um anjo, que nada conhece do mal, e vai se juntar a outros em luta do bem. Quanto mais a admirava, maior era o amor que sentia palpitar dentro de si de forma sublime.
Inesperadamente Ana respirou pela última vez. Não foi necessário o médico dizer que sua filha estava morta. Uma lágrima rolou de seu rosto, e grata disse a filha:
- Foi um privilégio te amar, te conhecer. Sinto-me honrada em ser sua mãe. Vá querida... Em paz, ficaremos bem...
Beijou a face rosada da filha em um último adeus.
Ao voltar para a casa, totalmente transtornada. Queria ir ao cemitério desenterrar a filha de qualquer jeito. Não permitia que ninguém se aproximasse para consolá-la. Só de olhar as pessoas a sua volta dava nos nervos, apesar de serem gentis e cordiais, ela não queria a presença de ninguém. Nem o marido conseguia confortá-la. Este teve de ter grande paciência, e provar todo o amor que sentia pela mulher. A única coisa que a fazia ficar calma era dormir, pois em sonho tinha novamente a filha nos braços.
Algumas pessoas que se aproximavam havia nelas alguma coisa fria, falsa, era o sentimento de pena o qual Joana não precisava. Um dia se passou... dois, três, que se transformaram em meses. Mas a tristeza dela parecia não ter fim, sua alma continuava escura, sombria.
A cabeça doía e ainda tinha vertigens. Obscuridade, alguma coisa dentro de si não queria morrer. Se sentindo apagada foi-se deitar. Sem perceber acabou adormecendo.
Acabou sonhando com Ana, mas dessa vez foi diferente dos sonhos anteriores. Ana apareceu na forma de um bebe, mas como um anjo.
- Chega de sofrer, mamãe! Seu sofrimento não esta fazendo mal apenas a você, mas também as pessoas que te amam. Inclusive eu! – quando disse isso seu semblante foi tomado por uma ligeira tristeza. - Veja como padece o pobre do papai. Tente olhar o aspecto positivo. Comece pensando que foi muito bom ter seu amor por todo esse tempo. Acorde e respire, há muitas pessoas que necessitam do seu carinho e estão te esperando de braços abertos, aproveite isso! Eu estarei aqui em cima sempre olhando por vocês.
Quando acordou teve a nítida impressão que não se tratara de um sonho. Havia sido muito real. E lembrou que a dor que continuava a sentir estava afetando a pequena Ana, que onde estivesse queria vê-la feliz. Tomando um gole de leite morno, relembrou com exatidão as palavras de Ana e resolveu refletir, clarear as idéias, afinal devia isso a si mesma e as pessoas demais. E essa tentativa a levou além.
Percebeu que o sofrimento que a havia arrastado era uma forma de aprendizado e não um castigo como imaginara.
Quando Deus revelou a Maria que ela daria a luz a um filho seu; ela não o questionou. Apenas disse – “Seja feita vossa vontade”. Na oração que Jesus nos ensinou também dizemos, “Seja feita a vossa vontade”. Não cabia a ela questionar a vontade do Criador. Lembrou claramente que havia pensado tanto em sua carreira, em ter dinheiro, bens matérias. Que filhos haviam ficado em segundo plano. Entendeu que filhos jamais devem ficar em segundo plano. Ter uma vida estável para se ter um filho era importante, mas não havia necessidade de enriquecer. O primordial seria o amor para dar, sem esperar receber recompensa por isso. Chega-se em um estágio da vida que o importante não o quê você tem, mas, quem você tem na vida. Tudo um dia pode acabar menos o amor incondicional, que não pode ser destruído, por ser eterno e transcender o tempo!
Havia cumprido seu papel, dando todo o amor de que era capaz a Ana. Talvez se a tivesse para sempre não seria capaz de doar seu amor da mesma forma. Pois existem pessoas que tem seus filhos perfeitos e saudáveis e se esquecem que precisam ser amados e necessitam saber disso. Outros perdem os filhos para o mundo, drogas... Desde o nosso nascimento, cada indivíduo precisa da ajuda das pessoas para viver, com o passar do tempo, para sobreviver. Sendo seres dependentes. Não por serem fracos ou carentes, mas porque essa é uma forma pela qual se pode crescer plenamente. No seu caso não havia perda, mais ganho...
Foi capaz de entender que era capaz de amar e dar amor. Poderia ter outros filhos, não para substituir, isso jamais, mas para se doar a eles. Estava preparada em todos os sentidos para ser mãe em sua forma e plenitude.
E sabia que existiam pessoas com quem podia contar. E qualquer coisa é suportável se não estamos sozinhos.
Sorrindo Joana voltou à realidade. Levantou-se, limpando a roupa com as mãos, tinha grama grudada em suas vestes.
Sentiu alguém a tocar e virou-se. Era a criança que havia chamado sua atenção. Percebeu naquele momento que ela era idêntica com a filha que em sonho foi vê-la.
A criança sorrindo, lhe estendeu uma flor. E numa voz infantil disse:
- Seu nenê tem muita sorte...
- Que nenê? – perguntou intrigada.
- Esse que está aí. – disse apontando para sua barriga.
- Ana? Venha filha. – chamou a mãe da criança.
Joana sentiu necessidade de dizer alguma coisa, mas ela já havia partido com seu risinho puro e inocente, saltitando feliz. E Lucas se aproximava vindo feliz ao seu encontro.
O amor sempre foi fundamental nos ensinamentos de Jesus, e é o elemento essencial para a cura da alma.
Fonte:
http://rodamundinho.ning.com/
Quatro anos, era a idade que sua pequena Ana teria, se tivesse sobrevivido àquela fatalidade da natureza. Joana estava com vinte e oito anos, quando descobriu que estava grávida. Foi uma alegria tremenda, pois, haviam planejado aquele momento com o maior carinho. Estava com uma carreira brilhante como advogada, seu marido Lucas tinha um escritório onde era contador; e aos poucos prosperava.
Tudo caminhava muito bem até o dia fatal.
Naquela manhã havia marcado uma consulta onde realizaria sua primeira ultra-sonografia. Estava na maior expectativa, pois talvez com sorte houvesse chance de ver o sexo do bebê. Entrou no consultório muito empolgada. A enfermeira deu as instruções, para prepará-la para o exame. O médico era um velho amigo e também seu ginecologista. Este confirmou seu tempo de gestação, estava grávida de 22 semanas. No meio do exame ela percebeu que uma lágrima escorria no rosto do homem, imaginou que era a emoção de ver uma criança em seu pleno desenvolvimento.
- Lamento Joana, - começou o médico - não existe uma maneira delicada de falar, nem tão pouco posso te dar esperanças. - o profissional parou por alguns instantes, como se buscasse palavras adequadas para prosseguir.
A mulher não entendia o que estava acontecendo.
- Seja mais claro, por favor... - pediu ela num fio de voz, enquanto temia pelo o que viria. Mas nem em um milhão de anos estaria preparada para ouvir a noticia que sucedeu.
- Infelizmente seu bebê tem Anencefalia. É um defeito congênito, que se desenvolve bem no inicio da formação do feto.
Naquele momento seu mundo desmoronou. Lucas não proferiu uma palavra. Um silencio mortal se fez no consultório. Percebendo que os pais da criança precisavam absorver o impacto da noticia, o velho médico pediu licença, a qual ninguém ouviu, e saiu.
- Muitas crianças com anencefalia morrem intra-útero ou durante o parto. Explicou o médico que tinha noção que aquela família não precisava no momento de explicação, mas infelizmente eram os ossos do oficio.
- Você pode optar pelo aborto, pode tentar conseguir uma liminar na justiça, pedindo a antecipação do parto. Em minha opinião, será mais dolorido e constrangedor um processo, mas apenas cabe a vocês esta difícil decisão.
O casal saiu da clínica como se estivesse em transe ou até mesmo dopado. Fizeram o trajeto para casa completamente escravizados pelos pensamentos doloridos que povoavam suas mentes.
Não estavam preparados para ouvir aquela notícia. Tinham como certo que seu filho seria completamente saudável.
Já em casa Joana olhou o semblante abatido do marido, notou que chorava copiosamente. Quis pedir para que se acalmasse, mas não sentiu coragem suficiente para abrir a boca. De súbito a dor veio, como se apenas naquele momento estivesse dando conta da delicada situação que ambos se encontravam. Abraçados, as lágrimas se misturavam, em uma mesma agonia. Depois de superarem o primeiro choque ambos se olharam com a pergunta muda no olhar: E agora?
Sabiam que era menina, decidiram que se chamaria Ana.
Eram inteligentes o bastante para saberem que aquele caso, em si, não existia meio termo. Os dois nunca foram a favor do aborto, e por mais que fosse dolorido, iriam com aquele ser até o fim... Sabiam que de uma forma ou de outra Deus a levaria, resolveram então curtir os momentos que teriam com Ana.Se esforçariam em mostrar o quanto ela era amada e desejada.
Para eles, ter aquela filha era uma alegria divina, um grande diamante, o grande tesouro da vida, amor era tudo por mais que fosse por pouco tempo.
Joana acabara de completar 23 semanas de gestação, sentia muito medo por não sentir seu bebê mexer. Foi abençoada dois dias depois com o primeiro movimento. Ela sentiu-se fazendo parte de um milagre. Em êxtase, ligou para Lucas que foi logo para a casa para comemorar com a esposa. Cada vez que a pequena Ana dava um forte chute, ambos se deliciavam e um grande amor palpitava em seus corações. Amavam cada movimento da filha porque sabiam que significava mais um dia juntos.
A mãe dedicava a maior parte do tempo contando à filha os sonhos e planos que havia desejado a ela, acariciava o ventre redondo tentando transmitir para Ana apenas vibrações positivas.
Quando sentia que o bebê estava agitado, Lucas dedilhava o violão e Joana se punha a cantar. Cantava com a alma e o coração. Juntos percebiam que a “nenê” logo ficava mais relaxada, e ambos riam diante da sincronia que existia entre eles.
Às vezes o casal ficava deprimido, pois sabia que cada minuto que passava era um tempo a menos junto da filha. Logo tentavam se animar para não transmitir a dor que sentiam cada vez que pensavam no fim.
Foi em uma manhã de chuva que Joana era o último dia junto de Ana.
O parto não poderia ser de maneira natural uma vez que o cérebro estava faltando e os hormônios responsáveis não foram gerados, teria de ser induzido. O médico havia sugerido que esperassem até as trinta e oito semanas.
Na sala de parto, sentia-se bem aparentemente. Mas dentro de si permanecia uma batalha. O temor e a preocupação chegavam a causar náuseas.
Pôs-se a pedir, com todo o fervor de que era capaz, a Deus, forças para enfrentar o que estava por vir. E como em um passe de mágica, tudo foi embora, dor, medo, pesar... Na sala instalou-se uma paz quase papável.
Como em câmera lenta sua filha veio ao mundo. Ela não chora de início, mas logo depois um leve som sai de seus lábios pequenos. Ela estava viva! O mundo pára de girar naquele momento, a única coisa importante é Ana. E cada segundo que Lucas e Joana ficam junto com a filha é precioso e sagrado.
Ela é tão pequenina! Podia ter uma deformação, mas para Joana ela era sua filha querida.
Parecia-se muito com o pai, percebeu ela. Mas trazia na pequena mãozinha uma marca igual à mãe tinha no mesmo local. Gostaria de pedir a Deus que a deixasse, mas sabia que não tinha esse direito. Olhando para a pequena em seus braços, Joana a achou semelhante um anjo, que nada conhece do mal, e vai se juntar a outros em luta do bem. Quanto mais a admirava, maior era o amor que sentia palpitar dentro de si de forma sublime.
Inesperadamente Ana respirou pela última vez. Não foi necessário o médico dizer que sua filha estava morta. Uma lágrima rolou de seu rosto, e grata disse a filha:
- Foi um privilégio te amar, te conhecer. Sinto-me honrada em ser sua mãe. Vá querida... Em paz, ficaremos bem...
Beijou a face rosada da filha em um último adeus.
Ao voltar para a casa, totalmente transtornada. Queria ir ao cemitério desenterrar a filha de qualquer jeito. Não permitia que ninguém se aproximasse para consolá-la. Só de olhar as pessoas a sua volta dava nos nervos, apesar de serem gentis e cordiais, ela não queria a presença de ninguém. Nem o marido conseguia confortá-la. Este teve de ter grande paciência, e provar todo o amor que sentia pela mulher. A única coisa que a fazia ficar calma era dormir, pois em sonho tinha novamente a filha nos braços.
Algumas pessoas que se aproximavam havia nelas alguma coisa fria, falsa, era o sentimento de pena o qual Joana não precisava. Um dia se passou... dois, três, que se transformaram em meses. Mas a tristeza dela parecia não ter fim, sua alma continuava escura, sombria.
A cabeça doía e ainda tinha vertigens. Obscuridade, alguma coisa dentro de si não queria morrer. Se sentindo apagada foi-se deitar. Sem perceber acabou adormecendo.
Acabou sonhando com Ana, mas dessa vez foi diferente dos sonhos anteriores. Ana apareceu na forma de um bebe, mas como um anjo.
- Chega de sofrer, mamãe! Seu sofrimento não esta fazendo mal apenas a você, mas também as pessoas que te amam. Inclusive eu! – quando disse isso seu semblante foi tomado por uma ligeira tristeza. - Veja como padece o pobre do papai. Tente olhar o aspecto positivo. Comece pensando que foi muito bom ter seu amor por todo esse tempo. Acorde e respire, há muitas pessoas que necessitam do seu carinho e estão te esperando de braços abertos, aproveite isso! Eu estarei aqui em cima sempre olhando por vocês.
Quando acordou teve a nítida impressão que não se tratara de um sonho. Havia sido muito real. E lembrou que a dor que continuava a sentir estava afetando a pequena Ana, que onde estivesse queria vê-la feliz. Tomando um gole de leite morno, relembrou com exatidão as palavras de Ana e resolveu refletir, clarear as idéias, afinal devia isso a si mesma e as pessoas demais. E essa tentativa a levou além.
Percebeu que o sofrimento que a havia arrastado era uma forma de aprendizado e não um castigo como imaginara.
Quando Deus revelou a Maria que ela daria a luz a um filho seu; ela não o questionou. Apenas disse – “Seja feita vossa vontade”. Na oração que Jesus nos ensinou também dizemos, “Seja feita a vossa vontade”. Não cabia a ela questionar a vontade do Criador. Lembrou claramente que havia pensado tanto em sua carreira, em ter dinheiro, bens matérias. Que filhos haviam ficado em segundo plano. Entendeu que filhos jamais devem ficar em segundo plano. Ter uma vida estável para se ter um filho era importante, mas não havia necessidade de enriquecer. O primordial seria o amor para dar, sem esperar receber recompensa por isso. Chega-se em um estágio da vida que o importante não o quê você tem, mas, quem você tem na vida. Tudo um dia pode acabar menos o amor incondicional, que não pode ser destruído, por ser eterno e transcender o tempo!
Havia cumprido seu papel, dando todo o amor de que era capaz a Ana. Talvez se a tivesse para sempre não seria capaz de doar seu amor da mesma forma. Pois existem pessoas que tem seus filhos perfeitos e saudáveis e se esquecem que precisam ser amados e necessitam saber disso. Outros perdem os filhos para o mundo, drogas... Desde o nosso nascimento, cada indivíduo precisa da ajuda das pessoas para viver, com o passar do tempo, para sobreviver. Sendo seres dependentes. Não por serem fracos ou carentes, mas porque essa é uma forma pela qual se pode crescer plenamente. No seu caso não havia perda, mais ganho...
Foi capaz de entender que era capaz de amar e dar amor. Poderia ter outros filhos, não para substituir, isso jamais, mas para se doar a eles. Estava preparada em todos os sentidos para ser mãe em sua forma e plenitude.
E sabia que existiam pessoas com quem podia contar. E qualquer coisa é suportável se não estamos sozinhos.
Sorrindo Joana voltou à realidade. Levantou-se, limpando a roupa com as mãos, tinha grama grudada em suas vestes.
Sentiu alguém a tocar e virou-se. Era a criança que havia chamado sua atenção. Percebeu naquele momento que ela era idêntica com a filha que em sonho foi vê-la.
A criança sorrindo, lhe estendeu uma flor. E numa voz infantil disse:
- Seu nenê tem muita sorte...
- Que nenê? – perguntou intrigada.
- Esse que está aí. – disse apontando para sua barriga.
- Ana? Venha filha. – chamou a mãe da criança.
Joana sentiu necessidade de dizer alguma coisa, mas ela já havia partido com seu risinho puro e inocente, saltitando feliz. E Lucas se aproximava vindo feliz ao seu encontro.
O amor sempre foi fundamental nos ensinamentos de Jesus, e é o elemento essencial para a cura da alma.
Fonte:
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