segunda-feira, 2 de maio de 2011

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXV – O Veado e o Sapo



Um veado e um sapo queriam casar com a mesma moça. Para decidirem a questão fizeram uma aposta.

— Temos aqui esta estrada compridíssima. Vamos correr — propôs o veado. — Quem chegar primeiro, casa com a moça.

O sapo concordou, e marcaram a prova para o dia seguinte.

O veado saiu dali dando boas risadas. Um pobre sapo ter a pretensão de apostar corrida com quem? justamente com ele, que era o animal de maior velocidade que existe! Ah, ah, ah!...

Mas o sapo usou da esperteza. Reuniu cem companheiros, aos quais contou o caso, combinando o seguinte: de distância em distância, à beira da estrada, ficaria escondido um sapo, com ordem de gritar Gulugubango, bango, lê, sempre que o veado passasse por ele e cantasse Laculê, laculê, laculê. Enquanto isso, o sapo apostador ficaria, no maior sossego, esperando o veado no fim da estrada.

Assim foi. Chegada a hora da corrida, o veado disparou que nem uma bala. Cem metros adiante cantou o Laculê, certo de que o sapo, lá atrás, nem ouviria. Mas com grande assombro ouviu a resposta adiante dele: Gulugubango, bango, lê.

— Será possível? — pensou consigo o veado, e deu maior velocidade às canelas. Voou mais cem metros e cantou: Laculê, laculê, laculê, e ouviu adiante a resposta: Gulugubango, bango, lê.

O veado começou a suar frio. Deu ainda maior velocidade às pernas, avançando mais duzentos metros, rápido como o relâmpago — e cantou o Laculê. Mas ouviu pela terceira vez, adiante, o Gulugubango, bango, lê.

E desse modo até o fim da estrada, onde, mais morto que vivo, com as pernas a tremerem do grande esforço, o veado cantou pela última vez, com voz de quem não agüenta mais: La... eu... lê... Mas ouviu de novo a voz descansada do sapo, que respondia, adiante, sossegadamente: Gulugubango, bango, lê. Fora vencido.

O veado jurou vingar-se. Na noite do casamento foi ao quintal do sapo e encheu de água fervendo a lagoa onde ele nadava. Altas horas o sapo teve saudades da lagoa e veio tomar seu banho. Tchi-bum! — pulou dentro e morreu escaldado. O veado, então, muito contente da vida, casou-se com a viúva.
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— Ora, até que enfim aparece um veado esperto! — gritou Emília.

— Esperto e perverso — disse Narizinho. — ; Bem merecia ser comido pela onça. Pobre sapo!

— Isso não! — contrariou Pedrinho. — Desde que o sapo logrou o veado, o veado ficou com direito de pagar na mesma moeda.

— Mas pagou em moeda diferente — disse a menina. — Se ele se limitasse a enganar o sapo, estava bem. Mas matou-o. Isso foi crueldade.

— Mas também quem manda sapo casar com moça? — observou Emília. — Sa com sa, mo com mo, diz o ditado.

— Que ditado é esse, Emília?

— Sapo com sapa, moço com moça. Sapo que encasqueta casar-se com moça, só mesmo cozinhado em água fervendo.

— E não se casou com ela o veado?

— Bom, isso é diferente. Veado é um animalzinho dos mais bonitos. Mas sapo... — e Emília deu uma cuspida de nojo.
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Continua… XXVI – A Onça e o Coelho
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom gostei muito de ajudaram muito porque meu trabalho vai ser amaha e o trabalho e o veado e o sapo muito obrigado e eu espero não ter atrapalhado tchallllllll