sábado, 27 de junho de 2020

A Literatura Portuguesa (Trovadorismo: Novelas de Cavalaria) III

NOVELAS DE CAVALARIA


O Trovadorismo ainda se caracteriza pelo aparecimento e cultivo das novelas de cavalaria. Originárias da Inglaterra ou/e da França surgira a partir das canções de gesta, antigos poemas de temas guerreiros, que em Portugal foram traduzidos, com algumas modificações que buscavam adaptar as novelas à realidade de Portugal.

Circulava entre a nobreza e, traduzidas do Francês, era natural que na tradução e cópia sofresse voluntárias e involuntárias alterações com o objetivo de adaptá-las à realidade histórico-cultural de Portugal.

Convencionou-se agrupar as novelas de cavalaria em três ciclos:

1) ciclo bretão ou arturiano, tendo o Rei Artur e seus cavaleiros como protagonistas;

2) ciclo carolíngio, em torno de Carlos Magno e os doze pares de França;

3) ciclo clássico, referente a novelas de temas greco-latinos.

As novelas de cavalaria têm uma forte conotação religiosa e eram permeadas por ensinamentos cristãos implícitos no enredo das histórias, refletiam o vulto à vida espiritual, a busca pela perfeição moral, a valorização de qualidades como a honra, a bravura, a castidade, a lealdade, a generosidade, a justiça entre outras. Chegaram aos nossos dias as seguintes novelas:
Amadis de Gaula, História de Merlim, José de Arimatéia e A Demanda do Santo Graal.

Amadis de Gaula marca com relevância a ficção da época, através do enredo amoroso e guerreiro, bem ao gosto do gênero, do cavaleiro perfeito, destruidor de monstros, tímido e heroico, apaixonado e fiel a sua amada Oriana, seguindo o modelo dos cantares de amor. A novela surpreende, sobretudo, pela atmosfera de sensualidade que une o par amoroso, em especial pelo fato da amada ter-se oferecido, gentilmente, antes do casamento.

A Demanda do Santo Graal é uma novela mística, tem começo numa visão celestial de José de Arimatéia e no recebimento dum pequeno livro (A demanda do Santo Graal). José parte para Jerusalém; convive com Cristo, acompanha-lhe o martírio da Cruz, e recolhe-lhe o sangue no Santo Vaso. Deus ordena-lhe que o esconda. Tendo-o feito, morre em Sarras. O relato termina com a morte de Lancelote: seu filho, Galahad (Galaaz), irá em busca do Santo Graal.

Conforme Massaud Moisés “(...) A Demanda do Santo Graal contém o seguinte: em torno da "távola redonda", em Camelot, reino do Rei Artur, reúnem-se dezenas de cavaleiros. É véspera de Pentecostes. Chega uma donzela à Corte e procura por Lancelote do Lago. Saem ambos e vão a uma igreja, onde Lancelote arma Galahad cavaleiro e regressa a Camelot. Um escudeiro anuncia o encontro de maravilhosa espada fincada numa pedra de mármore boiando n'água. Lancelote e os outros tentam arrancá-la debalde. Nisto, Galahad chega sem se fazer anunciar e ocupa a seeda perigosa (= cadeira perigosa) que estava reservada para o cavaleiro "escolhido": das 150 cadeiras, apenas faltava preencher uma, destinada a Tristão. Galahad vai ao rio e arranca a espada do pedrão. A seguir, entregam-se ao torneio. Surge Tristão para ocupar o último assento vazio.

Em meio ao repasto, os cavaleiros são alvoroçados e extasiados com a aérea aparição do Graal (= cálice), cuja luminosidade sobrenatural os transfigura e alimenta, posto que dure só um breve momento. Gawain (em português Galvão) sugere que todos saiam à demanda (= à procura) do Santo Graal. No dia seguinte, após ouvirem a missa, partem todos, cada qual por seu lado.

Daí para frente, a narração se entrelaça, se emaranha, a fim de acompanhar as desencontradas aventuras dos cavaleiros do Rei Artur, até que, acaba, por perecimento ou exaustão, ficam reduzido a um pequeno número, e Galahad, em Sarras, na plenitude do ofício religioso, tem o privilégio exclusivo de receber a presença do Santo Vaso, símbolo da Eucaristia, e, portanto, da consagração de uma  vida inteira dedicada ao culto das virtudes morais espirituais e tísicas.

A novela ainda continua por algumas páginas com a narrativa do adulterino caso amoroso de Lancelote, pai de Galahad, e de D. Guinevere, esposa do Rei Artur. Tudo termina com a morte deste último”.

continua…

Fontes:
Célio Antonio Sardagna. Literatura Portuguesa. UNIASSELVI, 2010.
Massaud Moisés. A LITERATURA PORTUGUESA. São Paulo: Cultrix, 2008.
Teófilo Braga. História da literatura portuguesa – Renascença. Lisboa: INCM, 2005. v. 2.

Imagem = Cola da Web

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