Fúlvio já não era criança, havia ultrapassado os 20 anos de casado. Tinha quase 50 anos de idade e o casamento tornara-se monótono. Seus cabelos já se agrisalhavam, seu sangue latino o impelia a uma aventura extraconjugal.
Não aguentava mais fazer amor em horas certas e sentir a reprise dos beijos frios da mulher ao sair para o trabalho.
Diz um velho ditado: "Quem procura, acha".
Um dia, num piscar de olhos, conheceu, no metrô, a mulher dos seus sonhos, ao retornar do trabalho. Olharam-se, sorriram, partiram para um papo, trocaram números de telefone e um dia acabaram num motel, classe média, na Raposo Tavares.
Ia Fúlvio nesta vida há quase um ano, quando resolveu ser homem, no bom sentido da palavra, e contar tudo a sua mulher, Leda.
Pensou e achou que a melhor forma seria lhe dizer tudo, sem drama.
Simples: "Não te amo mais, tenho outra"
Sabia que se tal situação acontecesse com Leda, ela assim agiria.
As cinco estações do Metrô que o levavam do trabalho para casa tornaram-se um longo trajeto, o mais longo de sua vida!
Saiu da estação decidido, cheio de coragem, a passos largos e nervosos.
Ao chegar, abriu a porta da sala, com as palavras ensaiadas querendo saltar-lhe da boca. Frustrado, constatou a ausência da esposa. Tomou uma ducha. Estranhou, no quarto, em cima do travesseiro, estava um envelope que lhe era dirigido. A caligrafia era de Leda, que assim dizia: "Não quero ser desleal com você, já há algum tempo gosto de outro. Adeus" Leda.
(publicado na Revista Santos, Arte e Cultura – Setembro/2009)
Fonte:
Cláudio de Cápua. Retalhos de Imprensa. São Paulo: EditorAção, 2020.
Livro gentilmente enviado pelo escritor.
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