A caridade é tão nobre,
quanto a força do perdão;
quem nega o pão para um pobre,
é tão pobre quanto o pão!
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Antes que cisme e se amoite,
lá do altar, da treva ingrata,
a lua enlouquece a noite
com seus versos cor de prata!
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Aos dias das mães da gente,
devemos dar luz e brilho;
mãe, é o mais santo presente
de Deus, na vida de um filho!
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Caminha de passos certos
quem nas trevas busca a Luz,
e faz dos braços abertos
os braços de sua cruz!
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De volta ao lar que foi meu,
velho!... Quis ler meu passado;
mas o que a infância escreveu,
já estava tudo apagado!
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Do orvalho, o pingo que cai
na planta, sem causar dor,
é uma lágrima que vai
regar os olhos da flor!
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E aquela voz tão singela,
que ouvi, não foi de ninguém?
Pensei que fosse a voz dela,
talvez, na voz de outro alguém!
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É longo o tempo de espera;
se o que se espera se alcança,
enquanto houver primavera,
não perco a minha esperança!
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Hoje, ao te ver na moldura,
do retrato abandonado,
teu semblante ainda murmura
tuas juras do passado!
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Já com cabelos grisalhos
caminha o andarilho em vão,
buscando a paz nos cascalhos
dos garimpos da ilusão!
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Minha alma inteira se agita,
e a saudade me consome.
Toda noite o vento grita
na porta, e chama o teu nome!
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Não há ninguém que descubra
as dores que a tarde sente,
na tristeza da cor rubra
do entardecer do poente!
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Na tua ausência, ao sol posto,
há um medo que me angustia,
temendo o pranto do rosto
dos olhos da noite fria!
- - - - - –
O silêncio, em noite calma,
fala tão profundamente...
Que põe mais vida e mais alma
na vida da alma da gente!
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O sino e meu violão,
têm seus lamentos iguais:
São vozes da solidão,
no silêncio de outros ais!
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O Sol, apertando o passo,
vai bebendo a luz do dia,
para pousar no regaço
dos braços da noite fria!
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Ó tu, velhice atrevida,
não sonhas nos dias teus?
Poupa-me as horas da vida
e a infância dos sonhos meus!
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Quando à noite, o céu se acalma,
e o silêncio, invade os campos;
a ternura põe mais alma
nas noites dos pirilampos!
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Que exemplo, o de um passarinho,
tão pobre e que nada tem,
e aos poucos, constrói seu ninho,
sem pedir nada a ninguém!
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Que pesadelo!... E eu sonhando,
refiz a minha esperança,
ao ver crianças brincando
com brinquedos de criança!
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Sem usar disfarce ou tinta,
o luar se perpetua
cor de prata, quando pinta
as pedras de minha rua!
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Se o tempo monta armadilhas,
a velhice não me afeta;
rejuvenesço entre as filhas,
renovo no olhar da neta!
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Sereia, sei que me rondas,
nas horas do meu sonhar:
Meu sonho acalmando as ondas,
teu canto agitando o mar!
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Sozinha e desprotegida,
tristonha e de olhar sem graça...
Vive a mocinha esquecida
vendendo o corpo a quem passa!
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Sozinho, mantendo a calma.
pergunta um velho ancião:
Se a lei da vida tem alma,
por que não tem coração?
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Teu beijo é como se fosse
feitiços de um grande amor,
nos lábios contendo o doce
do mel dos lábios da flor!
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Toda tarde, alguém me ensina
que a vida é sonho e ilusão,
no instante em que o sol declina
nas curvas da solidão!
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Tropeiros... Quantos tropeiros,
venceram mil desafios...
quais guardiões mensageiros,
rasgando os sertões bravios!
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Vi minha infância chorando
nas ruínas do meu chão,
e eu, com meus passos pisando
sobre os pés da solidão!
- - - - - –
Viver na casa sem ela,
pisando no mesmo chão...
É sentir na ausência dela
a sombra da solidão!
Fonte:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar. vol.2. Caicó: Ed. do Autor, 2018.
Livro gentilmente enviado pelo autor.
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