Minha cidade ficou chique. Está falando inglês, espanhol, italiano e alemão. Meu povo está nas colunas sociais, bate pernas para o exterior, dirige carros importados e toma banhos de mar e de lojas. Minha cidade está se achando. Meu povo sabe receber como ninguém, tem etiqueta, abre as portas das mansões nos domínios da zona sul para a leva de emergentes.
Minha cidade tem pose e posse. Minha cidade está podendo. A moda de São Paulo, Nova York e Paris já desfila por aqui. Ternos italianos, sapatos de cromo alemão, cuecas francesas, camisetas e tênis de marca. Vestidos das passarelas também esvoaçam por aqui. Meu povo tem poder, influência e dinheiro.
Meu povo faz lipo, peeling e aplicações de botox. Está magro, bonito e esticado. Meu povo está sarado e elegante. Meu povo é fino, tem classe, anda ereto. Tem cartão de crédito para comprar e .se tratar. Minha cidade é quase Dallas, como a colunável dizia depois de surtos américo-megalomaníacos.
E como o meu povo está comendo bem! O povo da minha cidade come diversificado e sofisticado. Aqui ou em qualquer outra capital. Rapidinho. É só entrar no avião. Vupt e meu povo já chegou em outro céu forrado de arranha-céus para comer, beber, dormir, festejar. Como meu povo circula com desenvoltura!
Como é progressista o meu povo! Minha cidade agora está no circuito dos grandes eventos artísticos e culturais. Minha cidade tem casas de espetáculos para o meu povo se divertir, adquirir conhecimento, ficar intelectualizado. Já não existe distância entre o meu povo e o resto do mundo. Minha cidade é antenadíssima com o planeta. Minha cidade, que já não é tão minha, que já foi tão nossa, entrou no ritmo da globalização.
Fonte:
Antonio Roberto de Paula. Da minha janela. Maringá/PR: Gráfica Sthampa, 2003.
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