sexta-feira, 26 de junho de 2020

Pedro Du Bois (Poemas Escolhidos) 6


ARRANJOS

Fosse o amor
mera referência
estatística

o beijo trocado
o expoente
no abraço dado
em divisões

o sim anunciado
em coerente resultado

a vida impõe
o fortuito e a doença
retém o imponderável

o cosmo e o caos
se entrelaçam
na vontade
desconsiderada.
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CONCRETO

Onde desperto
concreta base
inutiliza a vista
do que avisto

paredes
vidros
janelas

concretada paisagem
em altos prédios
onde escondemos
os corpos

fosse ruim a terra bruta
conservada no frescor
do tempo em contato

concretizados
nos recolhemos
em janelas fechadas.
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LUGAR


No lugar delimitado
das escavações
reduz a pó
o nada
encontrado
sagrado lugar
desabitado
por milênios

faz a sua casa
e senta na varanda
ao entardecer

a paisagem
destrava as portas
e pela abertura
antevê o restante.
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TROCAS

Além do instante
o trapiche
o barco
a vida dividida
em terra
e água

saber do encontro
entre a chegada
a criação
e a saída

a troca pela afirmação
do corpo na perseguição
das distâncias
e a ânsia
com que procuro
me abrigar ao contato.
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VEZES


Às vezes a vida
se desprograma
e o padrão
explode
em acontecimentos
inusitados
com que atravessa
o espaço
e ganha a terra
prometida

a vida retorna ao tanto
oferecido na média retórica
com que os dias se reapresentam

ficam gostos e imagens
fragmentados aos poucos
no tempero com que nos avistamos
no espelho.
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VOLTAR


Quando nossos ancestrais vieram
livres da pobreza europeia
no mundo novo
ganharam espaços
para nos gerarem

não nascemos em terras
secas entre guerras

vicejamos na ignorância
suprida pelo espaço oferecido

perdida a história
sonhamos a volta
aos vales verdejantes
que poderiam ter sido
e não foram.
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VONTADES


Tantas vezes fui embora
                     para sempre
como parar de fumar
                    nunca mais
ou dizer a primeira
mentira do dia

o sempre se mostra perto
e o retorno se faz
                   rápido
como voltar a fumar
ou dizer a primeira mentira
                       do dia

amanhã irei embora
                      para sempre
e levarei os cigarros.

Fonte:
Poemas enviados pelo poeta.

Um comentário:

Pedro Du Bois disse...

Caríssimo Feldman,
em tempos de confinamento, grato pelo destaque.
Abraços e bom final de semana.
Pedro