ATO UM
FERI MEUS OLHOS de tanto espiar a solidão em minha volta, como também meus pés, que se cansaram de caminhar por sendas e estradas sem volta, enquanto um vazio imenso insistia em chocalhar guizos de pânico, me levando contra a vontade, à um ponto distante de onde não tive como regressar.
ATO DOIS
De repente, me vi diante de um tédio pesado, denso enrodilhado aos farrapos de meus sonhos desfeitos e caídos por terra. Perdido, me senti só, triste e abandonado, como um barco naufragado num braço morto de rio, envolvido por águas turvas e paradas, a apodrecer meus devaneios mais carentes no meio do tempo.
ATO TRÊS
E ele, o tempo, sempre veloz e inexorável, continuou passando. Voou assim, rápido e veloz, sem que eu lograsse estancar o relógio, sem que conseguisse interromper, por algumas frações de segundos os ponteiros – ou ao menos, fazer com que rodassem ao avesso das intransigências das minhas horas.
ATO FINAL
Por essa razão, desde então, fantasmas iracundos cruzam por mim a todo instante. Entrelaçam as suas presenças bestiais numa espécie de alienação maçante e insuportavelmente crochetada por milhões de fios de novelos que parecem não ter começo, nem meio e nem fim. Entremeado a essa alienação, só a incerteza medonha do nada se expande horrivelmene sobre tudo.
Fonte:
Texto enviado pelo autor.
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