Os ventos do inverno começavam a silvar e as ondas a subir, quando o Pato e sua companheira reuniram sua ninhada às margens do distante lago boreal.
"Esposa", disse ele, "é tempo de levarmos as crianças para o sul, para as terras quentes, que elas nunca viram!"
Pela manhã, bem cedinho, eles iniciaram sua longa jornada, formando um grande V no céu durante o voo. A mamãe pato guiava a sua prole e o papai pato cuidava da retaguarda, mantendo-se vigilante para impedir que algum filhote desgarrasse.
Durante todo o dia eles voaram a grandes alturas, sobre vastas pradarias e imensas florestas de pinheiros do norte até que, à noitinha, avistaram uma cadeia de lagos brilhante como um colar de pedras azuis-escuras. Girando num meio círculo, eles baixaram mais e mais para pousar e descansar sobre a superfície calma do lago mais próximo.
De repente, mamãe pato ouviu um zumbido, um som que lembrava uma bala cortando os ares e, prontamente, ela os advertiu:
"Perigo! Perigo!"
Todos desceram numa espiral confusa, mas o grande Falcão veio na direção deles com uma das asas levantadas pronto para atacar. Os patinhos espalharam-se loucamente para todos os lados. O velho pato, que vinha por último, foi atingido!
''Honk! honk!" Todos os patos gritaram de terror e, por alguns instantes, o ar ficou cheio de penas, tão fofas quanto flocos de neve. Mas a força do golpe como que se perdeu ao encontrar o corpo macio do pato que, livrando-se prontamente do medo, rumou com a família para o sul, enquanto o falcão caía pesadamente à beira da água com uma de suas asas quebradas.
Ali ele ficou e, todos os dias, caçou ratos da melhor maneira que pôde, dormindo à noite no oco de um tronco para ficar protegido da Raposa e da Doninha. Toda a sua sagacidade não seria sozinha um meio suficiente para mantê-lo salvo durante o longo e duro inverno.
Na primavera, porém, a asa do Falcão cicatrizou e, ainda que debilmente, ele pôde voltar a voar.
No céu azul o sol elevava-se cada vez mais alto, e os patos começaram a voltar para o seu ameno lar do norte. Todos os dias um bando ou dois filhotes voavam sobre o lago, e embora desejasse, o Falcão não ousou caça-los. Ele estava fraco com a fome e temia confiar na resistência da asa quebrada.
Um dia, um ruidoso bando de patos pousou bem próximo dele, todos exibindo o tórax liso agitando-se como ondas e indiferentes diante de sua presença.
"Aqui, crianças!", vangloriou-se o velho pato, "é o mesmo lugar onde o vosso pai foi atacado no último outono por um cruel Falcão! Posso dizer a todos vocês que precisei usar toda a minha habilidade, rapidez e astúcia para salvar minha vida. Melhor que tudo, nosso feroz inimigo caiu ao solo com uma asa quebrada! Sem dúvida, ele há muito que morreu de inanição ou uma Raposa ou uma Marta tenha feito desta malvada criatura o seu alimento!"
Diante daquelas palavras, o Falcão reconheceu o seu velho inimigo e a sua coragem retornou.
"Entretanto, eu ainda estou aqui!", exclamou ele e, tal qual um raio, lançou-se sobre o desprevenido e velho pato que descansava e contava seu feito heroico e a difícil fuga com imenso orgulho e satisfação.
"Hunk! Hunk!", gritaram todos os patos e se espalharam como folhas secas de outono voando para o alto. Mas o falcão já tinha seu alvo. Caiu pois sobre o velho pato e eles giraram engalfinhados em estonteantes espirais, até que, com um rápido impulso, o Falcão agarrou o pescoço alongado do pato e o esmagou ao forte golpe de suas asas reunidas.
Fonte:
Elaine Goodale Eastman e Charles A. Eastman (tradução: Antonio Dorival). O talismã da boa sorte e outras lendas dos índios Sioux. SP: Landy, 2003.
"Esposa", disse ele, "é tempo de levarmos as crianças para o sul, para as terras quentes, que elas nunca viram!"
Pela manhã, bem cedinho, eles iniciaram sua longa jornada, formando um grande V no céu durante o voo. A mamãe pato guiava a sua prole e o papai pato cuidava da retaguarda, mantendo-se vigilante para impedir que algum filhote desgarrasse.
Durante todo o dia eles voaram a grandes alturas, sobre vastas pradarias e imensas florestas de pinheiros do norte até que, à noitinha, avistaram uma cadeia de lagos brilhante como um colar de pedras azuis-escuras. Girando num meio círculo, eles baixaram mais e mais para pousar e descansar sobre a superfície calma do lago mais próximo.
De repente, mamãe pato ouviu um zumbido, um som que lembrava uma bala cortando os ares e, prontamente, ela os advertiu:
"Perigo! Perigo!"
Todos desceram numa espiral confusa, mas o grande Falcão veio na direção deles com uma das asas levantadas pronto para atacar. Os patinhos espalharam-se loucamente para todos os lados. O velho pato, que vinha por último, foi atingido!
''Honk! honk!" Todos os patos gritaram de terror e, por alguns instantes, o ar ficou cheio de penas, tão fofas quanto flocos de neve. Mas a força do golpe como que se perdeu ao encontrar o corpo macio do pato que, livrando-se prontamente do medo, rumou com a família para o sul, enquanto o falcão caía pesadamente à beira da água com uma de suas asas quebradas.
Ali ele ficou e, todos os dias, caçou ratos da melhor maneira que pôde, dormindo à noite no oco de um tronco para ficar protegido da Raposa e da Doninha. Toda a sua sagacidade não seria sozinha um meio suficiente para mantê-lo salvo durante o longo e duro inverno.
Na primavera, porém, a asa do Falcão cicatrizou e, ainda que debilmente, ele pôde voltar a voar.
No céu azul o sol elevava-se cada vez mais alto, e os patos começaram a voltar para o seu ameno lar do norte. Todos os dias um bando ou dois filhotes voavam sobre o lago, e embora desejasse, o Falcão não ousou caça-los. Ele estava fraco com a fome e temia confiar na resistência da asa quebrada.
Um dia, um ruidoso bando de patos pousou bem próximo dele, todos exibindo o tórax liso agitando-se como ondas e indiferentes diante de sua presença.
"Aqui, crianças!", vangloriou-se o velho pato, "é o mesmo lugar onde o vosso pai foi atacado no último outono por um cruel Falcão! Posso dizer a todos vocês que precisei usar toda a minha habilidade, rapidez e astúcia para salvar minha vida. Melhor que tudo, nosso feroz inimigo caiu ao solo com uma asa quebrada! Sem dúvida, ele há muito que morreu de inanição ou uma Raposa ou uma Marta tenha feito desta malvada criatura o seu alimento!"
Diante daquelas palavras, o Falcão reconheceu o seu velho inimigo e a sua coragem retornou.
"Entretanto, eu ainda estou aqui!", exclamou ele e, tal qual um raio, lançou-se sobre o desprevenido e velho pato que descansava e contava seu feito heroico e a difícil fuga com imenso orgulho e satisfação.
"Hunk! Hunk!", gritaram todos os patos e se espalharam como folhas secas de outono voando para o alto. Mas o falcão já tinha seu alvo. Caiu pois sobre o velho pato e eles giraram engalfinhados em estonteantes espirais, até que, com um rápido impulso, o Falcão agarrou o pescoço alongado do pato e o esmagou ao forte golpe de suas asas reunidas.
Fonte:
Elaine Goodale Eastman e Charles A. Eastman (tradução: Antonio Dorival). O talismã da boa sorte e outras lendas dos índios Sioux. SP: Landy, 2003.
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