quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Afrânio Peixoto (Trovas Populares Brasileiras) – 5

Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.
 

A flor da quaresma abre,
logo depois cai no chão...
São assim os meus desejos,
vem chegando, lá se vão.
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A flor de minha esperança
expandiu perfume santo.
Hoje triste se retrata
na lagoa de meu pranto.
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As nuvens pretas são chuva,
as brancas são ventania,
não se me acaba a esperança
de te lograr algum dia.
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Botei o preto por gala,
o branco por bizarria,
o verde por esperança
de ainda gozar-te um dia.
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Coração que bate, bate,
quando não puder, descansa.
O alívio de quem ama
é viver só de esperança.
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Correu no céu uma estrela:
Deus te salve zelação!
Corresse eu para os teus braços,
junto do teu coração.
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Depois de um dia vem outro,
depois de outro, outro vem...
Não te entregues ao primeiro,
espera o que te convém.
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Dia e noite, céus e terra,
pela sorte a gente chama ...
Eu não! Só tenho um desejo:
– É dormir na tua cama.
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Dos teus braços para dentro
não admito ninguém.
Espera, tem paciência,
que eu mesmo serei teu bem.
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Garça branca, cor da neve,
plumosa bem como arminho,
voa, voa, vem depressa
pousar aqui no meu ninho.
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Lá em cima daquele morro
corre água de beber.
Ou mais cedo ou mais tarde
hei de em teus braços morrer.
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Manjericão quer dizer
uma esperança perdida.
Quem não goza o que deseja
melhor é perder a vida.
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Meu amor caiu doente,
eu também adoeci.
Eu queria tratar dele,
para ele tratar de mim.
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O desejo em peito triste,
é flor no sertão nascida,
que vinga, floresce e morre
sem se tornar conhecida.
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O mar se embalança e cai
nos alvos seios da praia:
Deus queira, de um tombo assim
que nos teus braços eu caia.
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O verde é cor de esperança,
prometida a quem quer bem.
Nosso dia não é chegado,
não desespere, meu bem!
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O verde diz esperança,
esperança tenho em Deus,
inda pretendo passar
meus braços por entre os teus.
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Plantei um pé de pimenta
pra comer, quando for dando.
Tenho uma menina em casa,
que pra mim estou criando.
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Quem espera, desespera,
quem espera, sempre alcança.
Não há maior alívio
do que viver de esperança.
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Quem me dera estar agora
onde está meu pensamento!
De Porto Alegre para fora,
de Cacheira para dentro.
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Quem me dera ter agora
um cavalinho de vento,
para dar um galopinho
onde está meu pensamento.
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Quem não bota água no cravo,
como quer que o cravo pegue?
Não me dando as esperanças.
como quer que eu viva alegre ?
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Se eu soubesse com certeza
que tu me tinhas amor,
caía nesses teus braços
como o sereno na flor.
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Tudo muda neste mundo,
só meu mal não tem mudança.
O bem de ontem é saudade,
o bem de hoje é esperança.
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Uma esperança, algum dia,
consoladora, nos diz
que entre os dias desgraçados
lá vem um dia feliz.
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Um desencontro no mundo
me desanima a esperança:
Ver cobiçar quanto foge,
desprezar quanto se alcança.
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Vai-se um ano e vem o outro,
pensas tu que desespero?
Ama a quem for de teu gosto,
que amor de dois eu não quero.
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Você diz que hei de ser sua,
pois tem querer e poder...
Isto não basta, benzinho,
faça antes por merecer!

Fonte:
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.

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