Fim de tarde melancólico no pontal do Mucuripe... lá em cima, o céu aos poucos se enluta; cá embaixo, maré seca, pequenas ondas tênues pouco encrespadas teimam em beijar a praia do Titanzinho, como se fora o derradeiro afago.
Uma folha de jornal quase desfeita se abraça a um coral vigilante que veio tomar fôlego na superfície. Eis a chave do mistério para tanta tristeza.
A cada momento seguinte, numa suave nuança, a abóbada celeste também lacrimeja piscando estrelas, ao ouvir atentamente os soluços do mar que, desesperado, roga aos deuses do Olimpo pela sobrevivência daquela praia, criatório de talentosos equilibristas de pranchas que hoje surfam na crista da onda em competições internacionais. E não é só disso de que se alimenta a Titanzinho, pois, viveiro de variadas espécimes de peixe, faz-se cardápio para os praianos que vivem em seu derredor.
Nem tudo são flores, no dizer do poeta, na praia do Titanzinho. A nossa sociedade míope enxerga-a como uma zona franca da prostituição, paraíso para os marinheiros sedentos e famintos que arriam âncora em nossos mares. Relegada ao esquecimento, ela tornou-se lembrada por jovens que se aventuram no trágico mundo do tráfico. Existem titãs, paradoxalmente, sem forças, que procuram maiusculizar a Titanzinho. São nativos de pele crestada que cheiram a maresia, cujos vagidos se confundem com o roçar do peito das ondas no dorso da praia, ou que nasceram no meio do mar e foram atraídos pelo canto das sereias, com a missão de diminuir a dor daquele povo sofrido.
Quão bom é ver e sentir o lado bom da comunidade Serviluz, que busca servir a luz para nossos irmãos que portam óculos escuros em noites trevosas.
Sob o teto de um azul já escurecido e o gotejar de lágrimas vindo de estrelas chorosas e refulgentes, pois que a lua ausente se fazia, pus-me a meditar naquela noite fria, fitando quase às cegas o lúgubre horizonte. Eis que me envolve os pés, já desbotada, aquela folha de jornal liberta dos corais, indecisa no seu ir e vir por tantas vezes no alcançar da praia, sem saber que trazia a chave do mistério, do porquê de tanta tristeza naquela praia condenada a desaparecer.
- MORTE ÀS PRANCHAS! VIVA O ESTALEIRO!... Lia-se com dificuldade as letras garrafais embaralhadas na página molhada.
360, Tubo, Cabuloso, Casca grossa, Kaó, Maroleiro, são gritos de guerra que tendem a perder eco naquela praia pequena que se fez grande aos olhos da Transpetro, empresa gerenciada por um cearense que na sua juventude, desfrutou dos distintos sabores que aquele pedaço de chão O mar lhe ofertou.
"é doce morrer no mar"... Que esta ideia de estaleiro na Titanzinho pereça sob as ondas que carregam no dorso nossos surfistas campeões. E os paquetes domados por homens de pele crestada e braços fortes sorrirão onda após onda, num duelo saudável entre o jangadeiro e aquele mundão d'água que lhe garante a sobrevivência.
Por um momento, submergiu a folha de jornal. Cá, na superfície, flutua a decisão dos nossos governantes; um sim, um não, conforme a maré...
Titanzinho, se morreres, morro contigo!
Uma folha de jornal quase desfeita se abraça a um coral vigilante que veio tomar fôlego na superfície. Eis a chave do mistério para tanta tristeza.
A cada momento seguinte, numa suave nuança, a abóbada celeste também lacrimeja piscando estrelas, ao ouvir atentamente os soluços do mar que, desesperado, roga aos deuses do Olimpo pela sobrevivência daquela praia, criatório de talentosos equilibristas de pranchas que hoje surfam na crista da onda em competições internacionais. E não é só disso de que se alimenta a Titanzinho, pois, viveiro de variadas espécimes de peixe, faz-se cardápio para os praianos que vivem em seu derredor.
Nem tudo são flores, no dizer do poeta, na praia do Titanzinho. A nossa sociedade míope enxerga-a como uma zona franca da prostituição, paraíso para os marinheiros sedentos e famintos que arriam âncora em nossos mares. Relegada ao esquecimento, ela tornou-se lembrada por jovens que se aventuram no trágico mundo do tráfico. Existem titãs, paradoxalmente, sem forças, que procuram maiusculizar a Titanzinho. São nativos de pele crestada que cheiram a maresia, cujos vagidos se confundem com o roçar do peito das ondas no dorso da praia, ou que nasceram no meio do mar e foram atraídos pelo canto das sereias, com a missão de diminuir a dor daquele povo sofrido.
Quão bom é ver e sentir o lado bom da comunidade Serviluz, que busca servir a luz para nossos irmãos que portam óculos escuros em noites trevosas.
Sob o teto de um azul já escurecido e o gotejar de lágrimas vindo de estrelas chorosas e refulgentes, pois que a lua ausente se fazia, pus-me a meditar naquela noite fria, fitando quase às cegas o lúgubre horizonte. Eis que me envolve os pés, já desbotada, aquela folha de jornal liberta dos corais, indecisa no seu ir e vir por tantas vezes no alcançar da praia, sem saber que trazia a chave do mistério, do porquê de tanta tristeza naquela praia condenada a desaparecer.
- MORTE ÀS PRANCHAS! VIVA O ESTALEIRO!... Lia-se com dificuldade as letras garrafais embaralhadas na página molhada.
360, Tubo, Cabuloso, Casca grossa, Kaó, Maroleiro, são gritos de guerra que tendem a perder eco naquela praia pequena que se fez grande aos olhos da Transpetro, empresa gerenciada por um cearense que na sua juventude, desfrutou dos distintos sabores que aquele pedaço de chão O mar lhe ofertou.
"é doce morrer no mar"... Que esta ideia de estaleiro na Titanzinho pereça sob as ondas que carregam no dorso nossos surfistas campeões. E os paquetes domados por homens de pele crestada e braços fortes sorrirão onda após onda, num duelo saudável entre o jangadeiro e aquele mundão d'água que lhe garante a sobrevivência.
Por um momento, submergiu a folha de jornal. Cá, na superfície, flutua a decisão dos nossos governantes; um sim, um não, conforme a maré...
Titanzinho, se morreres, morro contigo!
Fonte:
Francisco José Pessoa de Andrade Reis. Isso é coisa do Pessoa: em prosa e verso. Fortaleza/CE: Íris, 2013.
Enviado pelo autor.
Francisco José Pessoa de Andrade Reis. Isso é coisa do Pessoa: em prosa e verso. Fortaleza/CE: Íris, 2013.
Enviado pelo autor.
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