Numa tarde de calor fora de época, Amélia, esposa de Juca, se refletiu bela em frente ao espelho do quarto.
Estava ela com um vestido florido, decotado, e perfumada, feito flor de primavera.
Bem ao seu estilo, saiu sem destino cantarolando, fazenda afora.
No meio do caminho encontrou Simão, o mais chegado amigo de sua casa.
- Por onde pensa que vai? - perguntou Simão, chamando a atenção da morena faceira.
- Estou aproveitando o meu dia de folga para perambular por aí. - disse ela se aproximando.
- Aceita me acompanhar num café em meio a esse arrozal, minha amiga?
- E por que não aceitaria?
- Longe do marido, formosa e perfumada assim, tome cuidado... – alerta o peão.
- O que é isso, homem, não sabe que sou uma santa? Gavião não se mete a besta comigo, não! - respondeu, extrovertida.
Amélia sentou-se ao lado do amigo, e os dois ficaram um bom tempo proseando.
Juca não se encontrava na fazenda. Estava a trabalho para o patrão, na cidade.
Os demais peões, cheios de maledicências, se entreolhavam, riam e cochichavam entre si ao vê-los conversando alegremente.
- Olha como conversam e riem. - disse Pedro, cutucando Juliano com o cotovelo.
- Sim. Veja só como ela mostra as pernas para ele. - disse o colega.
- É claro que são amantes. Tenho certeza disso. - disse Pedro.
Depois de horas de conversa, os amigos seguem juntos. E os peões continuaram espiando até que as silhuetas deles desapareceram do outro lado da plantação.
O dia atípico de verão era prenúncio fatal de tempestade chegando. Ao anoitecer, os ventos surgiram encobrindo o céu de nuvens. Enquanto isso, Amélia, com satisfação, preparava o jantar do seu amor que logo chegaria encharcado pela chuva que estava vindo em grande volume.
Ao vê-lo chegando, correu feliz para abraçá-lo, pois de todas as alegrias da vida, abraçar o seu amor, era a sua alegria favorita.
- Amor, estou encharcado.
- Não me importo, querido.
- Como foi o teu dia? Ficou cuidando da nossa casinha ou aproveitou o belo dia de sol para passear um pouco? - perguntou Juca, à mulher, enquanto ela terminava o jantar.
- Coloquei uma roupa fresca e saí para tomar um pouco de ar.
- Que bom. E aproveitou para conversar com alguém? Às vezes te sinto tão só nesse lugar.
- Conversei com Simão. Mas cedo eu já estava de volta. Ele veio comigo. Queria apanhar umas margaridas do nosso jardim para oferecer à namorada que vem hoje à noite lhe fazer uma visita.
- Simão está namorando? Quem?
- Não sei de quem se trata.
- Simão é um bom e velho companheiro.
- Gosto de conversar com ele. Mas sei que a nossa amizade causa bochichos por aí... Sabe como é, mulher não pode ter amizades com homens.
- Bobagem. Confio em vocês. Principalmente em ti, minha única e amada mulher.
- Hum... Gostei de saber que sou a única. - disse ela, retribuindo a atenção do marido com envolventes carícias...
“Leis, padrões e regras, são invenções criadas pelo ser humano. E ninguém pode jurar sob a cruz sagrada o quanto essas regras estão certas ou erradas.
A amizade entre homens e mulheres, mesmo em tempos mais modernos, sempre foi razão para o despertar de fofocas e maledicências...
Será a amizade sincera entre um homem e uma mulher algo tão improvável assim?... Isso põem a prova a seriedade de uma mulher?
A seriedade de uma mulher não é ocultada na sua alegria de viver. Ao contrário, a alegria só faz enaltecê-la.
A verdade é que as regras sustentadas em nossa sociedade são fajutas e nada provam. Porém, precisamos admitir que, quando um homem e uma mulher se encontram, tudo pode acontecer.
Afinal, amizades, “casos” e amores andam por aí, em busca de novas experiências...
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continua…
Fonte:
Texto enviado pela autora.
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