quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Jaqueline Machado (Isadora de Pampa e Bahia) Capítulo 9: A amizade entre Amélia e Simão

Numa tarde de calor fora de época, Amélia, esposa de Juca, se refletiu bela em frente ao espelho do quarto.

Estava ela com um vestido florido, decotado, e perfumada, feito flor de primavera.

Bem ao seu estilo, saiu sem destino cantarolando, fazenda afora.

No meio do caminho encontrou Simão, o mais chegado amigo de sua casa.

- Por onde pensa que vai? - perguntou Simão, chamando a atenção da morena faceira.

- Estou aproveitando o meu dia de folga para perambular por aí. - disse ela se aproximando.

- Aceita me acompanhar num café em meio a esse arrozal, minha amiga?

- E por que não aceitaria?

- Longe do marido, formosa e perfumada assim, tome cuidado... – alerta o peão.

- O que é isso, homem, não sabe que sou uma santa? Gavião não se mete a besta comigo, não! -  respondeu, extrovertida.

Amélia sentou-se ao lado do amigo, e os dois ficaram um bom tempo proseando.

Juca não se encontrava na fazenda. Estava a trabalho para o patrão, na cidade. 

Os demais peões, cheios de maledicências, se entreolhavam, riam e cochichavam entre si ao vê-los conversando alegremente.

- Olha como conversam e riem. - disse Pedro, cutucando Juliano com o cotovelo.

- Sim. Veja só como ela mostra as pernas para ele. - disse o colega.

- É claro que são amantes. Tenho certeza disso. - disse Pedro.

Depois de horas de conversa, os amigos seguem juntos. E os peões continuaram espiando até que as silhuetas deles desapareceram do outro lado da plantação.  

O dia atípico de verão era prenúncio fatal de tempestade chegando. Ao anoitecer, os ventos surgiram encobrindo o céu de nuvens. Enquanto isso, Amélia, com satisfação, preparava o jantar do seu amor que logo chegaria encharcado pela chuva que estava vindo em grande volume.

Ao vê-lo chegando, correu feliz para abraçá-lo, pois de todas as alegrias da vida, abraçar o seu amor, era a sua alegria favorita.  

- Amor, estou encharcado.

- Não me importo, querido.

- Como foi o teu dia? Ficou cuidando da nossa casinha ou aproveitou o belo dia de sol para passear um pouco? - perguntou Juca, à mulher, enquanto ela terminava o jantar.

- Coloquei uma roupa fresca e saí para tomar um pouco de ar.

- Que bom. E aproveitou para conversar com alguém? Às vezes te sinto tão só nesse lugar.

- Conversei com Simão. Mas cedo eu já estava de volta. Ele veio comigo. Queria apanhar umas margaridas do nosso jardim para oferecer à namorada que vem hoje à noite lhe fazer uma visita.

- Simão está namorando? Quem?

- Não sei de quem se trata.

- Simão é um bom e velho companheiro.

-  Gosto de conversar com ele. Mas sei que a nossa amizade causa bochichos por aí... Sabe como é, mulher não pode ter amizades com homens.

- Bobagem. Confio em vocês. Principalmente em ti, minha única e amada mulher.

- Hum... Gostei de saber que sou a única. - disse ela, retribuindo a atenção do marido com envolventes carícias...
 
“Leis, padrões e regras, são invenções criadas pelo ser humano. E ninguém pode jurar sob a cruz sagrada o quanto essas regras estão certas ou erradas.

A amizade entre homens e mulheres, mesmo em tempos mais modernos, sempre foi razão para o despertar de fofocas e maledicências...

Será a amizade sincera entre um homem e uma mulher algo tão improvável assim?... Isso põem a prova a seriedade de uma mulher?  

A seriedade de uma mulher não é ocultada na sua alegria de viver. Ao contrário, a alegria só faz enaltecê-la.

A verdade é que as regras sustentadas em nossa sociedade são fajutas e nada provam. Porém, precisamos admitir que, quando um homem e uma mulher se encontram, tudo pode acontecer.

Afinal, amizades, “casos” e amores andam por aí, em busca de novas experiências...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
continua…

Fonte:
Texto enviado pela autora.

Nenhum comentário: