sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Jaqueline Machado (Memórias do subsolo, de Dostoiévski)

Em meados de mil e oitocentos, a Rússia opôs muitos conflitos, estava num período de grandes transformações. 

Esse foi um período no qual filósofos modernos da época como: Bentham e Mill, pregavam ardorosamente o utilitarismo e o positivismo. Mas Fiódor Dostoiévski, um grande mestre das Letras, daquele tempo, rejeitava as ideias de que o ser humano pode viver sob total controle, afinal, humano é gente, e não máquina, por isso desabafa suas críticas aos regimes da época na sua obra literária, Memórias do Subsolo, lançada em 1864. A partir da retórica apaixonada, em primeira pessoa, de um personagem que não tem nome, porque ele não representa um indivíduo em particular, mas um tipo social do seu tempo.

As primeiras palavras do personagem se dirigindo a uma plateia imaginária: 

Sou um homem doente, sou um homem raivoso, sou um homem sem graça nenhuma. Acho que sofro do fígado”. 

A seguir “... Sou instruído suficientemente para não ser supersticioso, mas mesmo assim, eu sou”.

Ele era servidor público e adorava fazer uso do seu pequeno poder para ser cruel, humilhar os mais simples. Era malvado de propósito. Havia alguma bondade nele, mas era orgulhoso e não deixava transparecer. Na verdade, ele não passava de um fracassado que precisava parecer superior a todos. 

A narrativa segue um ritmo de falas contraditórias: o que é, em instantes deixa de ser. E depois, volta a ser novamente. É um monólogo coreografado que induz a plateia a uma dança mental: “Dois neurônios pra cá, dois neurônios pra lá”.

É assim, que eu, como leitora, defino a narrativa de Memórias do Subsolo. 

O título da obra é uma metáfora que pode estar se referindo a um lugar ou ao nosso próprio “subsolo”...

E mais... O personagem também filosofa nas entrelinhas, que por causa desse subsolo, o suposto inconsciente, a humanidade, mesmo que, diante de uma vida perfeita, estragaria a perfeição, e estragaria de propósito, pois o ser humano é irracional, e mesmo que seja para provocar a sua própria queda, ele prefere a liberdade. Não abre mão do seu livre arbítrio, quer decidir sobre o próprio destino. E tudo bem. Isso é ser gente...

Ele dá a entender que o ser humano não foi feito para obedecer. Ele é o caos, e isso não é de todo mal, pois é em meio a todo caos, que as grandes e mais interessantes histórias do mundo acontecem. Que tudo acaba e se reinicia. 

Para mim, a síntese da obra é: “A liberdade é a ferramenta que está sempre a destruir e recriar a vida. Sem ela não existiria eternidade.

Fonte:
Enviado por Jaqueline Machado.

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