É uma flor perdida entre alvuras e brumas
que eu persigo,
flor obscura nascida em teu corpo de neve e de sol
e escondida de todos, menos do amor...
Encontro-a depois da escalada entre o céu e a queda.
E quando a tenho em meus lábios, agarrando-me a ti
despenco no abismo.
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" A Enchente..."
E quem diria que a enchente
vindo um dia de repente
iria te arrebatar?
Estão meus braços vazios,
vazios - como dois rios -
que te embalaram, sem ver
que te levavam
pro mar.
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" A Noite... e Teus Olhos..."
Ah! parece que a noite vem se aleitar
de nebulosas e de astros
em teus fugidios.
E que teus olhos se abastecem de luz
e mistério,
nas noites profundas e consteladas…
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" A Nossa Manhã"
Interrompidos todos os caminhos
- ah! perdidas todas as esperanças,
ninguém nos poderia tirar jamais aquela manhã
que nunca será tarde, nem nunca será noite
e será sempre manhã
em nossas lembranças...
As montanhas muravam nosso sonho,
emolduravam nosso encontro,
e nunca a serra fora tão linda...
E havia o rio a rolar, e havia o sol a dourar,
o céu azul nas vidraças, com suas nuvens, distante,
e havia um mundo mais distante ainda...
E havia o vento nos altos eucaliptos
musicando o silêncio,
o canto surdo das águas sussurrando baixinho...
E estavas em meus braços, como o vento nas folhas,
como o rio nas margens,
como a ave no ninho...
Era como se como se acordássemos juntos,
como se viesses de longa viagem feliz,
de uma noite de bodas
- e o que a noite não deu, colhemos na manhã
na longa viagem feliz de uma manhã de sol,
a mais bela de todas!
Era mesmo como se acordassemos, como se a vida
tivesse surgido de repente,
vida que nunca pressentíramos até ali,
e nos olhando nos olhos, nos dissesse
perturbadoramente:
- "Eu é que sou a vida!... E estou aqui!"
Era como se andassemos perdidos
em meio a um temporal, por tanto tempo, ao léu,
e encontrássemos um abrigo à margem do caminho
onde juntos ficamos, e onde juntos, assistimos
o sol jogar depois a serpentina multicor
do arco-íris, pelo céu...
Mesmo que acontecesse o impossível
(interrompidos todos os caminhos,
abandonadas todas as esperanças),
ninguém nos poderia tirar jamais aquela manhã
de nossas lembranças...
Foi nossa aquela manhã, minha a tua, nossa
com o louco amor com que te amei
e o louco amor que me deste
de ternuras e extremos...
Ah! meu amor, nem Deus nos poderá tirar
jamais
aqueles instantes que vivemos...
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" A Semana "
Segunda, me inflamo.
Terça, te amo.
Quarta, te vejo.
Quinta, te desejo.
Sexta, te quero.
Sábado, te espero.
Domingo, te sonho.
E quando longe de ti,
só para ti, componho.
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"A Sós..."
A sós
como duas gaivotas
na solidão do céu,
em pleno mar,
sonhando no ar...
A sós
como duas mãos quando se procuram
e se encontram,
sem voz...
Como eu e tu
quando somos nós
a sós…
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" A Tua Resposta..."
E porque eu fui dizer
que depois de te encontrar
já podia até morrer...
- tu me envolveste em teus braços
e me fizeste viver!
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Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. A sós. 1. ed. 1958.
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