Paranaguá antigamente |
José Wanderley Dias faz parte da história da nossa centenária Econômica Federal, à qual serviu por quase quarenta anos. Nesse convívio, amealhou a amizade, o respeito e a admiração de toda a classe.
Muitos foram os seus ensinamentos, alguns só compreendidos anos depois, e outros tantos a serem ainda decifrados...
Wanderley Pai nunca foi de fazer pose, ao contrário. Simples, jamais deixou que os degraus galgados ao longo da sua vida subissem à cabeça. Alegre e bonachão. Sempre com o anedotário em dia, fez da vida uma canção de amor junto à sua eterna companheira Neuza.
Fumou muito, durante vários anos. Com o primeiro enfarte, divorciou-se do cigarro. Beber, nem pensar - quando muito uma Coca diet, após suculenta feijoada, brincando que era para não engordar.
Assim era o Wanderley. Cristão convicto, gente acima de tudo, sem vícios, de hábitos saudáveis. Caminhava bastante, lia muito, até os anúncios, tendo na coleção de erros de imprensa o seu hobby predileto, aliás curiosa e divertidíssima. Paizão, amigo, companheiro de todas as horas, todos os momentos. Tive dois privilégios a mais do que meus irmãos; o fato de eu ser o primogênito e, assim, ter convivido um pouco mais do que eles com Neuza e Wandeerey; ter tido o pai, nosso mestre de vida, também como professor na faculdade - FAE. Suas aulas eram puro sentimento, os exemplos vinham dele próprio, na sua vivência cristã de um homem atento a tudo o que se passava. Com ele todos aprendiam. Também dava o peixe, mas, com certeza, ensinou a pescar durante toda a sua vida...
Na Caixa também era assim. Aliás, na vida, no seu dia-a-dia ele era assim. Um dos raros momentos em que deixou transparecer sua raiva, foi quando um imbecil daqueles que acha que cada qual tem o seu preço, saiu-se com uma proposta indecorosa para o velho. A cortada veio imediata, definitiva, mas mesmo assim o idiota sentiu-se no direito de aumentar a "oferta".
Naquele dia a antiga sede da CEF , um predinho de cinco ou seis andares onde acha-se erguido o atual Edifício-Sede (Praça Carlos Gomes), tremeu. Wanderley, forte de espírito e também fisicamente, levantou a "figura" jogando-a porta afora com divisória e tudo. Foi um arraso!
A gente começa a falar da mãe e do pai e viaja na mente e no coração (e que somos filhos-coruja, modéstia a parte, com sobra de razão para isso!). Mas voltemos ao título.
O pai viajava muito pela CEF e numa descida a Paranaguá, sabendo de que lá os apelidos proliferam, perguntou aos colegas qual era o dele. O gerente local mostrou-se em situação desconfortável, ao que o então diretor da carteira hipotecária da Caixa no Paraná reiterou: "Qual o apelido que os irmãos parananguaras me deram?" A resposta veio tímida: "Sovaco Ilustrado, doutor. Desculpe!"
Foi uma gargalhada só. Era comum ver Wanderley Dias com uma pilha de jornais e revistas em baixo do braço, daí o apelido certeiro.
Memórias da Caixa de outrora. Lembranças da vida. Saudades do "Sovaco Ilustrado" e de sua musa.
Fonte:
300 Histórias do Paraná: coletânea. Curitiba: Artes e Textos, 2004.
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