30.
Escrita num pequeno cartaz, a trova abaixo foi colocada sobre a urna mortuária de João Freire Filho. Segundo uma de suas irmãs, ela foi feita logo após o seu primeiro AVC, pois ele julgava ter chegado sua hora. Enganou-se, para a nossa alegria, que ainda pudemos desfrutar o tesouro de sua companhia por mais quatro anos. Enganou-se também na modéstia de seu autojulgamento, porque, na realidade, foi um excelente poeta e trovador.
Escrita num pequeno cartaz, a trova abaixo foi colocada sobre a urna mortuária de João Freire Filho. Segundo uma de suas irmãs, ela foi feita logo após o seu primeiro AVC, pois ele julgava ter chegado sua hora. Enganou-se, para a nossa alegria, que ainda pudemos desfrutar o tesouro de sua companhia por mais quatro anos. Enganou-se também na modéstia de seu autojulgamento, porque, na realidade, foi um excelente poeta e trovador.
Fui poeta... trovador...
Mas não fui tão bom assim!
Por isso, peço o favor
De não chorarem por mim!
João Freire Filho (21/6/08)
Mas não fui tão bom assim!
Por isso, peço o favor
De não chorarem por mim!
João Freire Filho (21/6/08)
3l.
Em criança, para eu poder ver o desfile dos blocos e Escolas de Samba na Avenida (Nos anos quarenta o carnaval carioca ainda era do povo...), meu pai me punha nos ombros. Para mim, aquilo era um deleite!... Vejam, na trova abaixo, como a sensibilidade do trovador conseguiu captar e traduzir esta sensação tão gostosa!
Pra ver o mundo de cima
da lembrança não me sai,
torre alguma se aproxima
do cangote do meu pai!
Moacyr Sacramento
da lembrança não me sai,
torre alguma se aproxima
do cangote do meu pai!
Moacyr Sacramento
32.
Depois de um dia inteiro de indisposição, o poeta José Lucas de Barros quis dar a boa notícia da melhora em sua saúde aos apreensivos trovadores que hospedava na casa de Pirangi. Ainda na cama, ao acordar, fez esta trova para recitá-la no café da manhã. Mesmo improvisada, a trova saiu com ótima qualidade e duas expressivas antíteses: ontem/hoje, compra/venda.
Nada de dor nem de tédio,
sinto quase a juventude:
Ontem, comprando remédio;
hoje, vendendo saúde!
José Lucas de Barros
sinto quase a juventude:
Ontem, comprando remédio;
hoje, vendendo saúde!
José Lucas de Barros
33.
Nesta bela trova, vencedora nos Jogos Florais de Niterói em 2007, vejam como a sensibilidade do trovador retoma a metáfora de Deus-poeta, que a cada manhã reescreve o “poema da alvorada” para presentear Seus filhos.
De exuberância suprema,
que nos encanta e extasia,
cada alvorada é um poema
que Deus compõe todo dia.
João Costa
que nos encanta e extasia,
cada alvorada é um poema
que Deus compõe todo dia.
João Costa
34.
O SÍMILE (ou comparação) é uma figura de linguagem semelhante à metáfora, porém bem mais direta. Ela exige apenas o uso claro de uma partícula comparativa (como, qual, tal, etc). Na trova abaixo, por exemplo, o poeta se compara à cana, da qual se extrai o doce caldo com a “dor” do esmagamento. Assim é também o poeta: quanto mais sofre, mais produz doçura em seus versos...
Veja como o uso desta figura tão simples no 1º verso propiciou a preparação para o achado contido no belo fecho de ouro dos 3º e 4º versos.
Sou como a cana do engenho...
Quem dera que assim não fosse!
Quanto mais dores eu tenho,
o meu cantar sai mais doce!
Luiz Otávio
Quem dera que assim não fosse!
Quanto mais dores eu tenho,
o meu cantar sai mais doce!
Luiz Otávio
35.
A língua é o instrumento de expressão da arte literária e, por consequência, da trova, um de seus gêneros poéticos. Por isso, a correção gramatical é uma preocupação constante dos trovadores e, às vezes, serve até de tema para a criação de algumas trovas.
Observem que os erros na pronúncia da palavra “poliglota” e na flexão de plural da palavra “degrau” constituem o ponto central dos achados das trovas humorísticas abaixo:
Sempre contando lorota,
diz que fala até chinês,
e, ao dizer-se “poligrota”,
assassina o português.
Maria Nascimento S. Carvalho
"CUIDADO COM OS DEGRAIS!"
- dizia o aviso ao freguês.
E ninguém tropeçou mais...
A não ser no português!
Renato Alves
diz que fala até chinês,
e, ao dizer-se “poligrota”,
assassina o português.
Maria Nascimento S. Carvalho
"CUIDADO COM OS DEGRAIS!"
- dizia o aviso ao freguês.
E ninguém tropeçou mais...
A não ser no português!
Renato Alves
36.
Calmamente vem o rio deslizando em seu leito... De repente, suas águas agitam-se, tornam-se esbranquiçadas, e ele despenca em queda livre, oferecendo-nos um imponente espetáculo visual como um véu de noiva. Mais adiante, retoma a calma e continua tranquilamente a fluir no seu curso... Esta é a descrição de uma cena linda, mas prosaica, como qualquer pessoa comum a vê.
Observemos, agora, como a sensibilidade de um poeta-trovador recria a mesma imagem visual, através de bela metáfora no primeiro verso para compor uma linda trova:
Vestem-se as águas de prata,
saltam no espaço vazio.
Findo o show da catarata,
sereno refaz-se o rio...
A. A. de Assis
saltam no espaço vazio.
Findo o show da catarata,
sereno refaz-se o rio...
A. A. de Assis
37.
O importante poeta pré-modernista brasileiro, Augusto dos Anjos, é conhecido por transmitir em sua poesia uma reflexão amargurada da vida. Tornou-se muito popular principalmente por usar temas inusitados e bem sombrios. Por isso, passou a ser chamado de “O poeta da Morte”.
Reparem que, na trova abaixo, dentro desta mesma linha temática do pessimismo, o poeta cria uma metáfora inusitada onde um “coração-coador” filtra as alegrias da vida e retém todas as tristezas:
Pobre de mim! Por desgraça,
meu coração é um coador...
Nele, o riso escorre... e passa...
E fica tudo que é dor...
Augusto dos Anjos
meu coração é um coador...
Nele, o riso escorre... e passa...
E fica tudo que é dor...
Augusto dos Anjos
38.
A metáfora é uma figura de linguagem que consiste numa espécie de comparação implícita. Por mais simples que seja, a metáfora sempre valoriza o texto poético onde é usada.
Vejam, no exemplo abaixo, como as palavras “chegada”, significando nascimento, e “partida”, significando morte, valorizaram o achado da trova onde são cotejadas a dor da mãe (no nascimento do filho) e a dor do filho (na morte da mãe).
Mãe, se dor fosse julgada,
não sei qual a mais doída:
Se a que te dei na chegada,
se a que me dás na partida.
José Fabiano
não sei qual a mais doída:
Se a que te dei na chegada,
se a que me dás na partida.
José Fabiano
Fonte:
Textos/trovas enviadas pelo prof. Renato
Textos/trovas enviadas pelo prof. Renato
Nenhum comentário:
Postar um comentário