terça-feira, 25 de julho de 2023

Contos e Lendas da África (O que os matou?)

(por Robert Hamill Nassau)

Personagens
Mbwa (cachorro)
Kudu (jabuti)
Mbala (esquilo)

PREFÁCIO
O cachorro e o esquilo tinham a mesma idade e ambos tiveram o mesmo fim. A obsessão de cada um foi a causa de sua morte.
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O cachorro Mbwa, o esquilo Mbala, o jabuti Kudu e outros animais viviam todos em uma mesma aldeia. Na época, todos se alimentavam com o mesmo tipo de comida. De repente, a paz que reinava no local acabou, então Mbala e Mbwa propuseram a Kudu:

— Vamos nos separar e viver em paz cada um em sua própria aldeia. Se você quiser, Kudu, pode continuar morando aqui com os outros.

O esquilo anunciou que se mudaria para um lugar a cerca de cinco quilômetros ao norte. O cachorro escolheu um local cinco quilômetros na direção oposta. Assim, todos se instalaram em seus pequenos povoados. 

Certo dia Mbala avisou sua esposa:

— Vou visitar meu amigo Mbwa.

E viajou, acompanhado de uma de suas esposas, até chegar à casa do cachorro. Lá, foram recebidos e entretidos por Mbwa, que matou uma ave para o jantar.

Mbwa e Mbala ficaram conversando na sala de estar enquanto as mulheres cozinhavam. Passado algum tempo, o cachorro pediu licença para ver como estava o preparo do jantar. Deixou o esquilo sozinho e foi para os fundos da casa, onde deitou-se em frente à lareira.

Lá ficou até que o jantar ficasse pronto. Então voltou para onde estava seu amigo e arrumou a mesa. Em seguida as mulheres chegaram com os pratos e sentaram-se todos para a refeição.

Durante o jantar, Mbala perguntou:

— Meu amigo! Aonde você foi enquanto as mulheres cozinhavam? Fiquei sozinho na sala.

— Ah, você sabe o quanto eu gosto de fogo. Quando estávamos conversando, o frio me incomodou.

— Você gosta de fogo até demais. Um dia ele será sua morte.

Após a refeição, o esquilo preparou-se para voltar à sua aldeia.

— Meu amigo Mbwa, devo esperar sua visita para daqui a quantos dias? — perguntou ao cachorro.

— Irei em dois dias. — respondeu Mbwa.

Ao chegar em casa, as esposas e filhos de Mbala lhe contaram o que havia se passado em sua ausência. Por sua vez, o esquilo contou o que havia visto na casa do cachorro.

— E notei uma coisa. Meu amigo Mbwa é obcecado por fogo. — acrescentou.

Dali a dois dias, Mbwa foi visitá-lo. Mbala matou uma ave e pediu para sua esposa prepará-la para o jantar. Enquanto esperavam, os dois amigos sentaram-se na sala de estar para conversar.

— Com licença, já volto. — disse o esquilo.

Então saiu para o quintal e subiu em uma bananeira para comer as bananas que já estavam maduras. Depois de algum tempo, desceu e voltou à casa para arrumar a mesa. Em seguida sentaram-se todos para a refeição, o esquilo, o cachorro e suas respectivas esposas.

— Meu amigo, aonde foi quando me deixou sozinho? — indagou Mbwa.

— Você sabe o quanto eu gosto de bananas, meu caro. Por isso, subi na bananeira para comer algumas.

— Você gosta de bananas até demais. Um dia morrerá por causa delas.

Terminado o jantar, Mbwa anunciou:

— Agora voltarei à minha aldeia. — e assim fez.

Apenas dois dias após seu retorno, o cachorro acidentalmente caiu na lareira e morreu queimado. Ao saber sobre sua morte, o esquilo comentou:

— Eu avisei. Ele gostava demais de fogo.

Certo dia, na Cidade dos Homens, um dos habitantes notou que todos os cachos de sua bananeira haviam sido comidos por algum animal. Então colocou uma armadilha na árvore.

No dia seguinte, Mbala pensou: “Estou com tanta vontade de comer bananas que vou subir na primeira bananeira que encontrar.”

Chegou até a Cidade dos Homens e, ao subir na bananeira, foi capturado e morto pela armadilha. O Homem o encontrou e ficou satisfeito por ter apanhado o ladrão de frutas.

As notícias da morte do esquilo chegaram até sua aldeia natal. Seus filhos, ao saberem que havia sido morto comendo bananas, disseram:

— Pois é, nosso pai gostava muito de bananas. Sempre dizia que Mbwa morreria queimado, de tanto que gostava de fogo. Ele, no entanto, amava bananas.

Fonte:
Elphinstone Dayrell, George W. Bateman e Robert Hamill Nassau. Contos Folclóricos Africanos vol. 2. (trad. Gabriel Naldi). Edição Bilingue. SESC.
Distribuição gratuita.

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