domingo, 16 de julho de 2023

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) XXXVIII


Ante a paz dos pirilampos,
felizes na escuridão,
vão-se as mágoas pelos campos
e as dores também se vão!
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Ao ver a infância indo embora,
cheia de sonho e saudade,
comparo a uma flor que chora
dando adeus à mocidade!
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As mágoas têm seus agravos;
e, entre as maldades profanas,
o tédio carrega os travos
das amarguras humanas!
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As ondas, em terno açoite,
sob a nudez do luar,
tecem as vestes da noite
na areia branca do mar!
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A trova que afasta o tédio,
que provoca pranto e dor,
pode conter o remédio
para as angústias do amor!
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Bem mais difícil seria,
para manter minha calma,
fazer versos sem poesia,
e, versos pagãos, sem alma!
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Desfaz todos os entraves
e quebra todos os nós,
o timbre das notas graves
do canto dos curiós!
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Diante do altar e de joelhos,
curvo a cabeça ante a Luz
e, ouço os mais santos conselhos
que há no silêncio da Cruz!
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Eis que o amor, se justifica
pelo tempo que perdura;
quanto mais velho ele fica,
mais nos dá força e ternura!
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Juventude!... Ante os teus ais,
pelos teus frágeis acenos,
percebo cada vez mais
que existes cada vez menos!
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Minha rua, pobre e bela
e, eu sempre a quis pobre e nua;
na infância, eu brincava nela
sem ser criança de rua!
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Não sei por que tu partiste;
mas, te impedir, eu não pude,
porque entre nós, não existe
os sopros da juventude!
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Nas pétalas de uma flor,
deixei um recado assim:
– Se alguém tiver mais amor,
proteja essa flor, por mim!
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Nesta manhã, calma e mansa,
nós somos dois arrebóis
jorrando luz e esperança,
na esperança de outros sóis!
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O orvalho que molha a flor,
tem beleza e desencanto:
à noite, gotas de amor
e, à luz do Sol, vira pranto!
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O teu canto, ave canora,
na prisão, que alguém te deu,
tem toda a dor de quem chora
por alguém que já morreu!
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Quando tu passas dengosa,
a vida de amor se banha
e, minha alma preguiçosa,
a tua sombra acompanha!
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São tantos os teus desvelos
nesta fronte encanecida,
que ao contemplar teus cabelos,
contemplo a fronte da vida!
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Saudade - ao som da viola,
numa noite de luar,
na noite em que nos consola
faz a gente delirar!
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Se a desventura te amarga,
e tu, reclamas por isto,
pensa no peso da carga
dos braços da cruz de Cristo!
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Sigo com minha alegria
e, as horas comigo vão;
mas, se eu voltar algum dia,
as horas não voltarão!
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Sobre a vida, às vezes, penso,
à luz de tantas auroras,
que a vida é um sino suspenso
martelando a dor das horas!
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Teu nome, nunca enxovalhes
em busca de fama e glória,
que a verdade em seus detalhes
desfaz as farsas da história!
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Tristonha, e de alma sombria,
em tudo se complicava:
diante do pranto, sorria,
mas, ante o riso, chorava!
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Tuas cartas!... tuas cartas,
só me causam pranto e dor,
por tantas lembranças fartas
desses excessos do amor!
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Tudo que sobra em meu teto,
e a massa do pão, que amasso,
vêm da mistura do afeto
de tudo aquilo que eu faço!
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Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Enviado pelo trovador.

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