sábado, 8 de julho de 2023

Altino Afonso Costa (A criança e a estrada)

A estrada é longa e a viagem monótona; dirijo meu carro com a indiferença de quem vai à parte alguma.

De repente vejo à minha frente uma criança sorrindo e acenando as mãozinhas através do vidro traseiro do carro em que viaja.

Indiferente à paisagem à sua frente a criança volta-se para o que passou e sorri e gesticula cheia de estranha felicidade.

Senti nesse momento que a minha vida também apresenta uma vidraça voltada para o passado cheia de segredos e lindas lembranças.

Senti vontade, também, de sorrir e acenar para o que passou; o presente à minha frente, não me consegue seduzir, como acontece com aquela criança inocente que me acena...

Só o passado é capaz de nos trazer alguma felicidade como uma paisagem conhecida, onde houve amores e beijos e abraços e momentos de ilusão, que embora distante na nossa memória, parece-nos reais, sem a miragem revelada no vidro da frente do nosso carro em movimento.

Continua sorrindo sempre e acenando tuas mãozinhas angelicais, linda passageira do vidro traseiro dos carros que passarem pela minha estrada, e deixa eu viver os sonhos da minha infância, como esses que povoam a tua imaginação...

Fonte:
Altino Afonso Costa. Buquê de estrelas: crônicas e poemas. Paranavaí/PR: Olímpica, 2001.
Livro enviado por Dinair Leite.

Nenhum comentário: