quarta-feira, 12 de julho de 2023

Elisa Augusta de Andrade Farina (Essência da vida: voltar-se para o outro)

A vida é como um romance. Está cheia de suspense. Você não faz ideia do que vai acontecer até virar a página. Cada dia é uma página diferente e pode estar repleta de surpresas. Nunca se vai saber o que virá a seguir até que a veja. Cada manhã é como uma sequência de uma virada da página seguinte de um romance. É emocionante sentir o prazer da página que você vai escrever a sua história. Pode acontecer alguma coisa maravilhosa ou não, vai depender do seu posicionamento frente aos obstáculos que decerto terão que ser enfrentados.

Somos seres incompletos, estamos em constante evolução. Nascemos indivíduos, mas a meta é alcançarmos a condição de pessoas. Nessa travessia o aperfeiçoamento sustentará os pilares que estabelecerão o conceito de pessoa a ser formada. Pois ser pessoa, nada mais é do que “dispor-se de si e dispor-se aos outros”.

Ao nos dispormos aos outros, fazemos uma interlocução entre o “eu” que me identifica e o “outro” para quem eu me volto. Ser sujeito refere-se à capacidade que o homem tem como ser humano de ser singular, pessoal, particular, reservado. Junta-se aos outros para compor o todo, não deixando de ser o que é.

Ser o que somos demanda cuidado, já que não é possível ser somente na solidão, necessitamos do encontro, pois a vida é feita desses embates. Quando as pessoas possibilitam voltar-se para o outro, concretizam o ato de suas singularidades, permitindo que as mesmas se pluralizem, misturem e acima de tudo advenham daí as influências que demarcarão suas existências.

A dinâmica é estupenda, as nossas melhores amizades foram estabelecidas pela casualidade de encontros que se perpetuaram e nem por isso a nossa subjetividade correu o risco de ser diluída em função do outro.

O desafio é constante, a iminência do risco é real. Os inimigos também chegam pela força desses encontros, cabendo a nós perceber a veracidade ou não dessa nova abertura que se nos apresentam como nova forma de contato ou sua execração definitiva.

A facilidade de se perder a centralidade do nosso “eu” na pluralidade do mundo e na entrega do outro, é um risco que corremos a todo momento, pois nos falta a convicção que nos permitirá fazer essa análise, ou porque estamos nos firmando intuitivamente ou por conta de uma racionalidade exacerbada que tolda qualquer possibilidade que venha surgir.

Cabe a nós acreditarmos no valor da nossa potencialidade de desconsiderar pessoas que nos esmagam, que nos viciam, dos que pensam por nós, que nos roubam a nossa autonomia, fazendo-nos prisioneiros de nós mesmos.

Nós escrevemos a nossa história da melhor forma possível, oportunizar a todos, fazer parte ou não da mesma, vai depender de como estamos dispostos a permitir que invadam a nossa privacidade, deixando à deriva os nossos mais íntimos sentimentos.

Temos que ter a certeza de que nenhuma ansiedade ou sentimento menor vai prevalecer nesse compartilhamento de ideias ou ideais que estamos pontuando, antes de tudo, o que importa é a nossa integridade, é a nossa busca de bem estar, é o voltar constante do “eu” para o “outro”, perpassando todos os valores capazes de nos tornar pessoas melhores a cada virada de página do livro da vida. Só assim, alguma coisa maravilhosa pode acontecer em cada manhã da nossa existência.
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Graduada em Filosofa, Professora Universitária, escritora e Vice-presidente da Academia de Letras de Teóflo Otoni, titular da cadeira 06.

Fonte:
Academia de Letras de Teófilo Otoni. A essência da vida. in Revista Café com Letras. ano 10. n. 10. Teófilo Otoni/MG: ALTO, dez. 2012

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