quarta-feira, 19 de julho de 2023

Daniel Maurício (Mosaico de Sentimentos)


AMAR

Amar
palavra fácil de rimar.
Amar
difícil acontecer.
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APARTAMENTO

Olhar janela
panorama
um... dois... mil!
Luzes, esplendor
céu escuto
eu sozinho
no computador.
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JANEIROS

O verde dos teus olhos
encheram-me de esperanças para o amor.
Mas os janeiros foram passando,
rápidos como as águas
barulhentas entre as pedras
para as quais jamais retornam.
Hoje, os olhos já não choram
mas o peito ainda arde
estranhamente.
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LUAR

A lua
de tão cheia
espremia-se entre os prédios
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NOSTALGIA

Uma velhinha
olhando pela vidraça
quebrada
a chuvinha
que teimava a cair.
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PAPEL

Papel
por que falar das coisas grandes?
Suas grandezas, bastam-se a si mesmas.
Por que não falar
desse retângulo de sulfite branco
que fita-me
coisa-me
cochicha-me
segredos
que só eu posso entender?
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PARDAL SOLITÁRIO

Como um pardal solitário
pulando entre telhados
gorjeio com tintas e lágrimas
nos muros da cidade
à procura do meu amor juvenil.
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PÁSSARO FERIDO

Escorria a poesia.
O ambiente conspirava.
Os lábios entreabertos
resfolegavam
suplicantes.
Escorria a poesia.
As pernas tremiam.
Num movimento de ancas...
Pássaro ferido em meus lençóis,
Escorria…
Pura sedução.
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POEMA ACANHADINHO

Deflorei um livro
abri suas pernas-páginas
meus olhos bêbados
de tanta beleza
devoraram um poema
acanhadinho
que sangrava em minhas mãos.
Lágrimas, suor e céu.
Foi assim meu primeiro amor
pela poesia.
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POR AÍ

Andei por aí
todo solto na vida,
na vã esperança
de me curar de você.
Mas em cada ato
em cada fato
sempre vem você,
revivendo todo o amor
despertando toda a dor.
Ai, ferida que não sara!
Será que só você pode curar?
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QUEM É?

Quem é esta doida
santa ou devassa
que no meio da noite
por onde ela passa
exala a lascívia
respira a luxúria
vaca profana
de que me ama
e também a José?
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TEIMOSIA

Uma dor
que não quer curar
um amor
que não quer vingar
um botão
que teima em não desabrochar
um adeus
que não quer dizer
é o medo de poder
ter o que não se quer.
Seria pelo mesmo amor?
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VENTOS DA LIBERDADE

Vera Aurora
verdadeira deusa do amanhecer.
Nem preciso fechar os olhos
para rememorar a imagem
de tuas belas pernas
sob a eterna saia de veludo bordô.
Passos altivos
caminhar esnobante
aos olhares gulosos.
Desejos guardados,
pecados encobertos pelo medo,
Hoje, não há espaço para os segredos
a paixão ficou grande demais
para continuar sendo sussurrada
às escuras.
Vera Aurora,
verás a aurora do amor,
quando cortares as amarras
que te ligam ao velho cais.

Fonte:
Daniel Maurício. Mosaico de Sentimentos. São Paulo: Scortecci, 2013.
Enviado pelo poeta.

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