sábado, 22 de julho de 2023

Sílvio Romero (O Preguiçoso)

(Folclore do Pernambuco)

Havia um homem muito preguiçoso que nada fazia. 

Um dia veio um velho e pediu-lhe rancho em casa; o velho cansou-se de lhe bater na porta e nada do homem se animar a levantar-se para abrir a porta. Ao final, desenganado, o velho pediu à dona da casa que lhe guardasse ali uma toalha que levava, mas que a não abrisse. 

O velho seguiu seu caminho. A mulher guardou a toalha, mas teve curiosidade e abriu-a. Apareceu logo uma grande mesa com tudo quanto é de bom e melhor de que a mulher se regalou. Ela escondeu a toalha, e, quando o velho veio procurar a toalha, a mulher deu-lhe outra em vez da sua. 

Chegando o velho em sua casa, mandou a toalha se estender e a toalha quieta. O velho calou-se e no outro dia foi à casa do preguiçoso e deixou lá ficar uma cabra pedindo-lhe que a guardassem até a sua volta, mas que tivessem o cuidado de não lhe dizer: «Berra, cabra!» 

O velho retirou-se. 

A mulher foi e disse: «Ora, isto é mistério; aqui temos novidade! Berra, cabra!» 

Entrou a cabra a berrar e começou a cair muito dinheiro de ouro e prata da boca da cabra. Logo que a mulher viu isto, trocou a cabra por outra, e quando o velho veio saiu enganado. 

Chegando em casa mandou a cabra berrar, e nada, e nada! Percebeu que estava enganado e calou-se. 

Chegou por fim um trabalhador do velho e lhe pediu ao amo o seu jornal. Respondeu o velho: «Meu filho, eu não tenho, mais dinheiro; mas dou-te um porrete, que aqui tenho, que te há de fazer feliz.»

O rapaz recebeu o porrete e seguiu. Foi ter justamente na casa do preguiçoso. Pediu rancho e deu o porrete para guardar. 

A mulher trocou o porrete por outro, e no dia seguinte o moço disse: «Dê-me o meu porrete, que me quero ir.» 

porrete entrou a dar bordoadas de criar bichos no marido e na mulher. Puseram-se eles a gritar, e o rapaz ficou admirado de ver aquela virtude do porrete.

A mulher aflita gritou: «Meu senhor, mande seu porrete parar, que eu lhe dou o que me deu o velho para guardar. 

O moço disse: «Para, porrete, e tudo pra cá!» 

porrete parou, e a mulher entregou ao rapaz a toalha e a cabra. O moço tudo recebeu e voltou para casa do seu amo, e lhe contou o que se tinha dado com ele na casa do preguiçoso. 

O velho então lhe disse: «Esta toalha e esta cabra têm virtude; quando tiveres fome, estende esta toalha, e te há de aparecer comida da melhor; e esta cabra quando berra bota dinheiro pela boca.» 

O rapaz ganhou o mundo com seus três presentes.

Fonte:
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Lisboa/Portugal: Nova Livraria Internacional, 1885.
Disponível em Domínio Público.
Atualização do português por J.Feldman

Nenhum comentário: