terça-feira, 25 de julho de 2023

Luiz Poeta (Poemas Escolhidos) – 16 -


ARTILHEIROS DA CULTURA

A cada vez que comprimimos o gatilho
da emoção, a nossa arte se projeta,
não temos alvo, pois na mira de um poeta
Está o amor que a emoção chama de filho.

As nossas fardas se confundem, os paisanos
e os militares se diluem na vontade
de abençoar a sua sensibilidade,
com os mesmos sonhos de aprendizes e decanos.

O Forte é sempre um coração dentro da história,
a inspiração é uma sutil onda de mar
que acaricia a solidão de cada olhar,
criando imagens que borbulham na memória...

Nossos canhões não silenciam... o festim
dos seus disparos sobre nossa antologia
são ecos soltos que declamam poesia,
de todo amor que vive em ti e existe em mim.

Nossas palavras são registros de ternura,
somos iguais com rara sensibilidade,
e por criarmos a poesia em liberdade
é que nos chamam de Artilheiros da Cultura.
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CINEMA MUDO

Meu coração está no porto, a despedida
É iminente... o adeus não marca hora,
E eu só sei que, se a tristeza for embora,
A minha dor esquecerá cada partida.

Minha razão nem sempre aponta uma saída,
Mesmo escondida, eu percebo que ela chora...
E quando minha solidão a apavora,
Ela dilui-se em minha dor mais... dolorida.

Um pleonasmo é necessário, quando a falta
De uma palavra não conserta uma ferida,
Por isso, a dor mais insistente e atrevida
Apaga as luzes que enfeitam a ribalta.

Sou o Carlitos de um velho cinema mudo,
Fazendo mímica de cada sentimento,
E quando o pano cai no último momento,
É que um piano silencia... ao fim de tudo.
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NO INSTANTE EM QUE TU VENS ME VISITAR

Multiplico tua face se te penso...
São milhares de olhares me percorrendo,
Fico louco, entorpecido, quente...tenso
Mas me lembro que sequer tu estás me vendo.

Tua imagem poliforma-se em meus sonhos
Atraente, envolvente, glamorosa...
Dissolvendo-se em meus olhos tão... tristonhos...
Tua imagem excitante e... vã... teimosa.

Eu procuro evitar teus olhos, tento
Dissolvê-los em mudanças de atitudes,
Mas teu corpo não me sai do pensamento,
Como eu tento... tu me tentas e...me iludes!

Sem poder raciocinar... inebriado
Com teus olhos percorrendo o meu olhar,
Fecho os olhos e te beijo...extasiado
Mas... coitado...eu nem posso te tocar.

A paixão é uma espécie de licor
Que embriaga a razão com a fantasia,
Mas depois que essa razão torna-se dor,
O amor é essa dor que se extasia...

Minha lágrima embaça a imagem
Sensual que o meu olhar pensa que vê,
Minha angústia só disfarça a maquiagem
E a razão nem sabe mais no que ela crê...

Um sorriso melancólico se instala
Nos meus lábios, parecendo aceitar
Uma eterna solidão que a dor embala
No instante em que tu vens... me visitar.
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POR QUE POR QUÊ?

Por que é que tudo tem que ter sempre um porquê?
... o amor, amada, não precisa de respostas
e o desamor e a solidão nos dão as costas,
...se eu expresso o amor que sinto por você.

Bom é amar, sem ter que dar explicações...
as emoções libertam todo o nosso encanto
e a cada pranto, sempre há novas sensações
de ouvir a voz dos mais sublimes acalantos.

O nosso amor, tão preocupado com sonhar
nunca dá tempo à indagação inconveniente...
... porque o amor mais sedutor que a gente sente,
responde sempre com o brilho do nosso olhar

Portanto, amada... se alguém lhe perguntar
- com esse "porquê" que interroga e não responde,
diga: - Não sei, o nosso amor só vai aonde
a emoção faz a razão brincar... de amar.
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SINTAXE

Precisava impressioná-la.
Estudou,
com afinco,
as colocações pronominais.

Optou pela mesóclise:

Amar-te-ei
- quase declamou -
emocionado.

- Não enche! - Ela gritou.
Empurrou-o irritada
e foi embora.

Se iniciasse a frase
- coloquialmente -
com um pronome oblíquo,
contrariando
propositalmente
a gramática,
a discordância - apenas sintática -
seria perfeita

... e não mataria
a concordância...
... amorosa.

Fonte:
Luiz Poeta. Nuvens de versos. Campo Mourão/PR: Ed. Jfeldman, 2020.

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