domingo, 2 de julho de 2023

Filemon Martins (Poemas Escolhidos) XXIV


ANTES QUE A NOITE CHEGUE...


Quando o sol se debruça no horizonte
deixando a tarde bela e mais fagueira,
antes que a lua, pelo céu, desponte,
a saudade se achega e faz trincheira.

Ao longe, em tom avermelhado, o monte
transmite uma quietude verdadeira,
trazendo ao coração o som da fonte
que canta, docemente, em corredeira.

Assim, vou recordando os tempos idos,
sonhos fagueiros, lindos e vividos,
que a memória jamais vai esquecer...

E, antes que chegue ao fim dessa jornada,
terei, por certo, em minha caminhada
muitos versos de amor para escrever.
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AO SOM DO NOSSO AMOR

Vou caminhando pelo mundo afora
e lembrando dos tempos já vividos.
Quantos sonhos de amor, mas vejo agora
que muitos sonhos foram destruídos.

Por que devo chorar? A nova aurora
traz a luz de outros sonhos coloridos
e me dizem que o sonho de quem ora
é mais bonito em todos os sentidos...

As árvores já secas e esquecidas
ressurgem verdejantes na floresta,
tornando-se mais belas e floridas...

Também minha poesia é uma seresta
que se renova quase às escondidas
ao som do nosso amor, que vive em festa!
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CURVA DO CAMINHO

Eis-me chegando à curva do caminho,
onde vejo os escombros do passado:
a casa em que nasci, cresci, malgrado
o quarto de dormir em desalinho.

Não me faltou, porém, muito carinho
vivendo no Sertão injustiçado,
onde o "mandante" sempre desalmado
faz o povo sofrer, no Pelourinho...

No entanto, a vida é bela e deslumbrante,
mesmo que a estrada se apresente escura
sempre brilha uma luz ao viajante...

...E quando eu me tornar uma saudade,
minha alma esquecerá a desventura
para cantar, em verso, a Eternidade!
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OLAVO BILAC
                 
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac,
estrela de primeira, um verso alexandrino.
Perfeito no soneto, o vate foi destaque
e primou pela forma, ourives diamantino.

Como parnasiano revelou-se um craque
com seu verbo fluente e forte foi divino.
Palestrou, escreveu, amou e sem sotaque
“ora (direis) ouvir estrelas,” seu destino.

Orador, literato e um grande sonetista,
foi também pensador,  ardente jornalista,
gigante na palavra, um poeta de escol.

“Última Flor do Lácio” o vate da Esperança,
amante do Saber, da Pátria e da Criança,
por isso és fulgurante como a luz do Sol!
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UM DOMINGO DE SOL

Domingo. Estou só, não há ninguém,
só caneta, papel e inspiração,
a saudade já chega a Itanhaém*
e agita, sem querer, meu coração.

Quero escrever um verso. Sou refém
deste sonho de amor, desta ilusão
de acreditar que o ser humano tem
poder para mudar esta opressão.

Quisera transformar este planeta
usando o livro e até minha caneta,
e partilhar a sensação do amor.

Talvez, agindo assim nosso futuro
possa ser mais feliz e mais seguro
neste Universo belo, encantador!

Fonte:
Filemon Francisco Martins. Anseios do coração. São Paulo: Scortecci, 2011.
Enviado pelo autor.

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