sábado, 15 de julho de 2023

Daniel Maurício (Origamis de Palavras)


Aquarela no jardim...
Aguada,
A natureza colore as pétalas
Sob a chuva fina
Ranhuras desenhadas
Revelam autênticas
Digitais divinas.
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A Torre
Que a cidade espia
Divide segredos
Com a lua cheia.
Cheia...
Cheia de sonhos e suspiros
Que dos apaixonados escapam.
Sedutora bolha de sabão!
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Bailarina

Como um pisar em solo sagrado
Com sapatílhas de cetim
A borboleta baila
Sobre as delicadas pétalas,
Leve, suave e respeitosa.
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Embrulhados
nas folhas secas
vão-se embora
meus desapegos
abrindo novos espaços
para os sonhos
e um amor sem medo,
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Estive ausente
Por algum tempo...
Mas minha alma cantarolava...
Assobiava...
Não para abreviar os dias
Mas sim
Para regar as flores
Que plantava pra você.
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Fé...
No espelho da minh' alma
Já vejo a felicidade
Sorridente a valsar.
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Derretem as areias do tempo
Passam as tempestades do mar
Uivam os lobos no deserto
E os ventos param de açoitar.
Intacto guardei meu amor.
De bem-me-quer
E malmequer
Não quis brincar
Senhora do meu querer
Não deixei-me despetalar.
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Hoje
Emprestei um sorriso
Do porta retrato.
Assim,
Ninguém percebeu
Que chorei.
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Manhã de inverno...
Mesmo ao sol,
As folhas não dispensam
O cachecol florido.
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Na mandala de pinha
Falha ou pinhão
A gralha azul tira na sorte
Talvez um sim
Quem sabe um não.
Ladainha nas copas verdes
Nas tardes frias do Sul
Desfolha a pinha
Ao passar o vento
Feito contas de rosário
Vindo tudo para o chão.
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Na porcelana antiga
Flores orvalhadas
Perfumes e saudades
Lembranças de você.
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Nas flores bordadas
Pela natureza
O perfume contorna cada pétala
Suaves dobraduras
em papel de seda
Acariciam meu olhar
De amor carente
Desenhando rimas
Colorindo versos
A árvore-menina
Toma um banho
De poesia
Faz a alma suspirar.
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Paz…
Repousou suas asas
Num equilíbrio perfeito
Sossegando o meu peito.
Calmaria de lua
Minhas mãos junto às tuas
Agradecem a Deus.
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Quando o amor
Acorda dentro do peito
A rotina vira instinto
E a aparente obrigação
Passa a ser satisfação
Ao ver o brilho
No olhar do outro.
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Saudade...
Barco quebrado no peito
Que sem ter outro jeito
Faz do coração
O seu único cais.
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  Silenciosos raios de sol...
A alma da orquídea
Desabrocha sedutora
Num arrepiante beijo batom.
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Tarde de inverno.
Na xícara de chá,
O amor-perfeito
Lembrando você,
Aquece o meu olhar.
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Tenho
Um céu particular
Nele
Só guardo coisas boas
E não é qualquer pessoa
Que tem acesso
Ao seu portal.
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 Trago tua imagem
aninhada em meu peito
como quem carrega
um escapulário.
Estala em mim os beijos
que em ti
nunca foram depositados.
Assim, na incompletude do desejo
namoro tua foto
revivendo um pouco do passado.
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  Venho a ti
Com a transparência da verdade.
Por isso,
Quando digo que te amo
É porque minh' alma
No altar do amor,
Te desejou primeiro.
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Fonte:
Daniel Maurício. Origamis de Palavras. São Carlos/SP: Pedro e João Editores, 2021.
Enviado pelo poeta.

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