sexta-feira, 14 de julho de 2023

Marlene Campos Vieira (O tapete amarelo)

Chego na janela e vejo o tapete amarelo.Fico ali parada, viajando no tempo. Meus olhos fixos no tapete de flores amarelas que a árvore da casa ao lado floriu e se cobriu, despejando pétalas na frente da minha janela.

Por certo é um presente, uma declaração de amor da natureza cobrindo exatamente o meu lugar, o nosso lugar: o universo.

Estar ali na janela fazendo minhas viagens interiores, correndo pelos jardins suspensos da Babilônia, deitada no tapete amarelo é tudo que faço ao acordar. Muito colorido sem nenhum borrão, arte do artista divino de imensa imaginação.

Logo bem cedo pássaros cantam pulando de galho em galho celebrando um novo dia. As abelhas trabalham incansáveis, são flores incontáveis para extrair o mel. Essa é a essência da natureza: fechar os ciclos, encerrar os capítulos, esquecer-se do inverno e viver a ardente primavera.

Assim vou cultivando meu interior, namorando o tapete amarelo, agradecendo ao artista maior que com esmero o produziu.

Parece tão inacreditável que o vizinho plantou uma árvore e ela fez um tapete para mim. Que majestoso! Todos que passam por ali também podem pensar assim. Vou viver o amarelo, é a alegria da cor, fotografar em minhas pupilas esse acontecimento inesquecível. Fazer uma gravação no CD da minha memória e passá-lo sempre, ouvindo o cantar alegre dos pássaros na árvore amarela.

Penso no hoje, no agora, na minha alma colorida de um amarelo vibrante, o amanhã fica a cargo do artista e seu pincel mágico. Viver é se refazer sem medo de ser feliz, então o inesperado acontece e aparece um tapete amarelo na sua janela.

A natureza convida: fechar os ciclos, abrir-se ao novo, voar no tapete amarelo…
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Educadora, escritora e membro titular da cadeira 29 da Academia de Letras de Teófilo Otoni.
Fonte:
Academia de Letras de Teófilo Otoni. A essência da vida. in Revista Café com Letras. ano 10. n. 10. Teófilo Otoni/MG: ALTO, dez. 2012

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