sábado, 15 de julho de 2023

Richardson Mateus Souza Silva (Rotina )

Acordo às carreiras para ir no banheiro, rejeitado várias vezes no meio da madrugada. Entro e apoio a minha mão na porcelana branca de trás do vaso que fica do lado da descarga, pensando absolutamente em nada. Ainda com sono, o despertador do smartphone toca, insistente.

— Calma, meu amigo. Já estou desperto. Fica quieto.

Desacreditando que terei de trabalhar mais uma vez, desligo o alarme que tocou durante trinta segundos e que naquele momento, aparentavam ter mais tempo do que o combinado. Em meio aos bocejos e espreguiçadas, pego a escova de dentes dentro do armário amarelo que dependurei acima da pia.

Entusiasmado por ter escovado os dentes (que não são tão brancos assim, talvez pelo fato de ter fumado alguns palitos de cigarros do Paraguai), após tomar aquela xícara de café no copo transparente, presente de um parente que não lembro quem, exatamente dou graças à Deus, por estar vivo.

Ao sair do banheiro, olho para o roupeiro bagunçado e passo a mão na calça que usei na segunda-feira da semana passada, e, por ainda não estar suja, virou meu uniforme fiel até que não se reconheça mais a sua cor original. De igual modo, a camisa preta de mangas curtas tamanho GG, comprada no brechó da Igreja Católica por R$ 5,50, ficou tão confortável, que se eu tivesse sido o primeiro dono, ainda estaria com ela!

Flagro-me novamente procurando minhas chaves, que deveriam ter sido colocadas no gancho improvisado, gancho este parafusado em uma das prateleiras que ficam debaixo do painel da minha tevê de 42 polegadas. Por sorte não é Smart. Por igual ventura, bato no bolso direito do jeans azul claro, e encontro as preciosas.

Ato contínuo, me dirijo até a cozinha da quitinete alugada em que vivo, incrustada ao lado do centro comercial da Cidade onde moro. Por acaso não é a cidade, tampouco o bairro onde nasci.  Vim do interior de Minas Gerais, ou mais precisamente de Ipatinga. Pego o abridor de “fechaduras particular” e escancaro a porta do refeitório onde arrisco em comer alguns dos pratos que fiz no dia de ontem.

Saindo para o corredor do prédio, fecho a porteira, e me encaminho às escadas. Estou no primeiro andar em cima do térreo. Quando finalmente me encontro no portão que acessa a rua, lembro que esqueci do celular. Por mais trincado que esteja, ainda é útil. Dou meia volta e subo as escadas de volta a meu esconderijo. Espero que os degraus não enguicem. Finalmente agarro o celular com unhas e dedos. Mais dedos que unhas.  

Ao entrar na quitinete (a dita é minha até que o contrato acabe), passo perto da geladeira e assomo o portal do quarto. Quando pego o telefone, desbloqueio e percebo que hoje é domingo, e eu não tenho que ir para o trabalho.  Assustado com meu rotineiro costume, atiro-me na cama e ela me ajuda a voltar bem depressinha para os aconchegos de um novo dormir.

Fonte:
Texto enviado por Aparecido Raimundo de Souza

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