segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A. A. de Assis (A Província do Guairá: Um pouco da história do antes de Maringá) Parte 7


A PROVÍNCIA DO PARANÁ

-19 de dezembro de 1853... Confere?

-A Lei Imperial n. 704, que criou a província do Paraná, foi sancionada no dia 29 de agosto de 1853. No dia 19 de dezembro, com a chegada de Zacarias de Góis e Vasconcelos, enviado como primeiro presidente e encarregado de organizar os serviços administrativos, instalou-se oficialmente a nova província.

-Paraná, capital Curitiba!

-Curitiba já havia sido elevada à categoria de cidade desde 1842, sediando a 5ª comarca da província de São Paulo. Pela posição geográfica e por apresentar condições de rápido desenvolvimento, foi naturalmente escolhida para capital. O Paraná abrigava na época uma população de 62.258 habitantes, dos quais 6.791 viviam em Curitiba. Paranaguá contava com 6.533 moradores e Ponta Grossa com 3.033.

-Luís Pedro, certamente, assistiu à posse de Zacarias...

-Estava lá, capengando mas cheio de orgulho. Morreu dois anos depois, em 1855. A essa altura os Campos Gerais passavam por uma fase de extraordinário progresso. O comércio de mulas, cavalos e bois estava no auge. Os tropeiros iam buscar os animais no Rio Grande do Sul, no Uruguai e na Argentina, invernando-os nas imediações de Ponta Grossa. Dali eram levados à Feira de Sorocaba, onde eram vendidos aos fazendeiros de café de Minas Gerais e do Vale do Paraíba. Consta que a média de comercialização de animais em Sorocaba era de 100 mil cabeças por ano. Com isso, cresciam animadamente as vilas paranaenses do roteiro: Palmas, Guarapuava, Ponta Grossa, Castro...

-Dizem que os cavalos de Palmas e Guarapuava eram de maior valor no mercado...

-Famosíssimos.

-Me diga uma coisa: não se plantava trigo no Paraná nessa época?

-Claro que sim. Mas trigo não se planta; semeia-se. Pelo menos é o que se ensinava naqueles tempos. A técnica utilizada nos Campos Gerais era a seguinte: começava-se por fazer o gado estacionar na área a ser cultivada, para estercá-la; depois trabalhava-se a terra com enxada e arado e em seguida semeava-se à mão, cobrindo os grãos e fazendo passar por cima, à maneira de grade, a copa de uma árvore puxada por bois. Dizia-se que a colheita seria tanto melhor quanto mais fortes tivessem sido as geadas. Nas próprias fazendas moía-se e panificava-se o trigo.

-Os Torales se dedicavam também à lavoura de trigo?

-O negócio quente deles era o comércio de mulas. Luís Pedro deixou três filhos homens, que se organizaram para expandir a “rede”. Um deles ficou em Ponta Grossa cuidando da invernada; outro viajava seguidamente ao Sul comprando mulas e cavalos; o terceiro, Fernando Paulo Torales, que veio a ser meu bisavô, estabeleceu-se em Sorocaba: a ele cabia receber os animais enviados de Ponta Grossa e orientar a comercialização na feira. Dessa forma o negócio continuou de vento em popa, até 1874, ano em que morreu Fernando Paulo.

-Os herdeiros não quiseram lidar com mulas?

-Fernando morreu relativamente jovem, com 53 anos. Tinha apenas um filho, meu avô João Afonso, do qual tenho falado desde o início desta narrativa. Ocorre que nessa época já corriam trens em várias regiões do Brasil, desvalorizando as mulas como meio de transporte. Não vendo futuro naquele comércio, João Afonso preferiu então mudar de ramo. Abolicionista e republicano ferrenho, no fogo dos seus 22 anos, vendeu a pequena fazenda que herdara do pai nas vizinhanças de Sorocaba (onde eram invernados os animais antes de serem levados à feira), alforriou os poucos escravos lá existentes e montou uma casa de secos e molhados. Na cidade estaria dentro da lufa-lufa política que tanto o fascinava. Naquela casa meu pai José Francisco Torales cresceu vendendo feijão, cachaça e ferramentas. Em 1903, meu pai se casou com minha mãe Carmen, uma espanhola bonita e de gênio forte que ele conhecera em Santos. Como presente de casamento, João Afonso lhe deu sociedade na firma e passou a cuidar mais de política do que de negócios.

-E a tal farmácia?

-A farmácia meu avô montou dois anos depois, para continuar mantendo contato com o povo. Quando completei 15 anos, ele me colocou lá como aprendiz, dizendo que o estabelecimento futuramente seria meu. Sei lá por que razão, ele tinha um dengo todo especial por mim. Ensinou-me a lidar com remédios, fez-me frequentar a escola, conversava muito comigo, e foi nessas longas conversas que fiquei sabendo das aventuras dos Torales. O velho morreu em 1929, com 77 anos, deixando de fato a farmacinha para mim.

-Mas o senhor não ficou lá por muito tempo...

-Na época falava-se muito das terras roxas que começavam a ser abertas no norte do Paraná. Empolgado com aquelas notícias, e diante da oportunidade de retornar às origens da família, não resisti à tentação. Em 1932 já estava morando em Londrina.

-Família predestinada essa sua. Os Torales estiveram envolvidos em histórias de índios, de mineradores e de tropeiros. Agora vão mergulhar na história dos bandeirantes do café...

-Prefiro dizer pioneiros do café. Pioneiro me parece uma denominação mais adequada a quem chega para ficar, produzir, sofrer, crescer com a terra onde se instala. Mas falemos do café, que tem uma história muito interessante.

A BEBIDA DA MODA

-Tudo começou com Melo Palheta... Correto?

-No Brasil, sim, porém o café é muito mais antigo. Em 1500, quando Cabral chegou aqui, os beduínos já o conheciam havia 650 anos. No início do século 18, o produto começava a ser consumido intensamente na Europa, especialmente na França, onde ganhou status de bebida da moda, rivalizando com o chá. Os elegantes cafés de Paris são famosos desde aquela época. Além do sabor agradável, o produto apresentava a virtude de combater o frio e curar as enxaquecas.

-Ainda hoje ele é tido como ótimo remédio contra ressaca...

-Os franceses andavam à procura de algo que substituísse o chá da Índia, então monopolizado pelos ingleses. Decidiram por isso introduzir a cultura do café na Guiana, por volta de 1710. Foi dali que a preciosa rubiácea passou para o Brasil, trazida pelo comerciante português Francisco de Melo Palheta, em 1727. Consta que Palheta foi à Guiana Francesa em missão específica do governo de Lisboa: obter mudas de café para iniciar o plantio em terras brasileiras. Portugal estava de olho grande no crescente mercado aberto para a nova bebida na Europa. O fato é que logo em seguida surgiram nos quintais de Belém do Pará os nossos primeiros cafeeiros, prosseguindo a expansão ao longo do litoral: Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro...

-Em grande escala?

-Ainda não. Plantava-se café em chácaras e quintais para uso caseiro das famílias mais sofisticadas, que gostavam de imitar os hábitos europeus. O forte da agricultura brasileira continuava sendo a cana-de-açúcar, o fumo e o algodão. Somente a partir de 1820 surgiram grandes lavouras de café, sobretudo em Minas Gerais e no Vale do Paraíba. Em 1830, o produto já ocupava o terceiro lugar em nossa pauta de exportações, alcançando em 1850 a liderança.

-Nova era na história do Brasil...
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continua…

O e-book completo pode ser feito o download no blog do Assis http://aadeassis.blogspot.com

Fonte:
A. A. de Assis (A Província do Guairá: Um pouco da história do antes de Maringá). e-book. 2011.

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