Os quartetos, normalmente, podem ser armados com:
ABBA – ABBA
ABAB – ABAB
ABBA – BAAB
ABAB – BABA
Quanto aos tercetos, que se movimentam com relativa liberdade, comportam muitas variações, como :
CDC – DCD
CCD – EED
CDE – CDE
CCD – EDE
CDE – DCE
CCD – DEE
CDD – DCC
CDE – EDC
CDE – DEC
CDD – CEE
CDC – EDE
“ E passarão os anos e os anos; irão modas, virão modas; e esse ser criado, tão simples e tão complexo, tão sábio e tão pueril ( nada mais, em suma, que dois quartetos e dois tercetos ), seguirá tendo uma eterna voz para o homem, sempre igual, mas sempre nova, mais sempre distinta” . (Dámaso Alonso)
“ Para muitos, o soneto é inibidor, mas eu acho que é a prova de fogo do poeta. Para mim, ele é um momento de amor, com seus dois quartetos, dois tercetos e a chave de ouro, que é o grande êxtase” . (Massaud Moisés)
“ Não considero o soneto o espartilho da poesia. Fernando Pessoa, um dos maiores poetas modernos, usa o soneto”. (Otto Lara Resende).
“ Apolo inventou o soneto para tormento dos poetas “ . (Boileau)
“ Pela concisão impressiva, entrecho conceituoso, narração dramática em poucas linhas e facilidade de incrustação mnemônica, é o soneto que decreta e sanciona a celebridade de um artista”. (Agripino Grieco )
" O soneto está em todas as literaturas e, desde o século XIII, resiste a todas as revoluções. Não há, a rigor, grande poeta que não tenha sonetado – Dante, Petrarca, Shakespeare. Nas letras portuguesas, as duas mais altas vozes são de exímios sonetistas – Camões e Fernando Pessoa. O soneto é, a bem dizer, a carta de identidade de um poeta” . (Otto Lara Rezende)
Menotti del Picchia
SONETO AO SONETO
Soneto, mal de ti falem perversos,
que eu te amo e te ergo no ar como uma taça.
Canta, dentro de ti, a ave da graça
na gaiola dos teus quatorze versos.
Quantos sonhos de amor jazem imersos
em ti, que és dor, temor, gloria e desgraça?
Foste a expressão sentimental da raça,
de um povo que viveu fazendo versos.
Teu lirismo é a nostálgica tristeza
dessa saudade atávica e fagueira
que no fundo da raça nos verteu
a primeira guitarra portuguesa
gemendo numa praia brasileira
naquela noite em que o Brasil nasceu...
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Júlio Dantas
SONETO
Amo o soneto porque é molde antigo
para dizer as coisas sempre novas;
porque depois de não sei quantas provas
um pudor virginal guarda consigo.
O soneto é mais puro do que as trovas.
Sim, Bem-Amada, eu nele apenas digo
tudo o que é nobre em mim, tudo o que aprovas
e é meu prêmio na vida, e meu castigo.
É fino e breve, e tem segredos de arte;
uma pureza, enfim, tão cintilante
que, quando um dia desejei cantar-te,
Os teus encantos rútilos, diversos,
pus em soneto; e desde aquele instante
só sei rimar-te com quatorze versos.
2 - Fazem-se sonetos com qualquer número de sílabas, até mesmo, por extravagância, de uma sílaba apenas (monossílabo). Entretanto, o decassílabo, na poesia clássica portuguesa, é o verso mais apropriado para o soneto. Em geral, os autores dessa composição preferem o decassílabo ou o alexandrino. São os versos que mais se prestam para esse tipo de poesia. Entre os demais, os mais comuns são os de sete sílabas (heptassílabos).
3 – O soneto deve manter fiel e severa obediência à sua disciplina estrutural: duas rimas nos quartetos; a pausa, logo após; duas ou três rimas nos tercetos; o ritmo perfeito; música, beleza e harmonia nos versos, sem qualquer laivo de insipidez; e a chamada chave de ouro (décimo-quarto verso) que não seja um exagero, a ponto de parecer antecipadamente arquitetado.
“Nos dois quartetos, trata-se de fazer nascer e crescer a expectativa; no primeiro terceto, de ligar a expectativa à marcha para a solução, que se sente aproximar; no último terceto, de dar à expectativa desfecho que, ao mesmo tempo, dê prazer ao espírito e lhe proporcione satisfação pela lógica e surpresa pelo imprevisto”. (Augusto Dorchain)
“...a cada uma das quatro estâncias do soneto deve corresponder uma divisão sensível, do pensamento, e tanto melhor se ela se manifestar igualmente de dois em dois versos do quarteto”. (Francisco Freire)
“Como toda arte, assim também é a arte do Soneto. As regras são para o verdadeiro artista pontos de partida. O ponto de chegada chama-se obra-prima”. (Agostinho de Campos)
4 – A chave de ouro encerra a essência do pensamento geral da composição. “O soneto deve abrir-se com chave de prata e fechar-se com chave de ouro”. A chave de ouro deve ser um toque sutil no acabamento do soneto. Faz parte de sua unidade, de seu conjunto, e destina-se a impressionar pela beleza da imagem.
Quem lê um soneto que o satisfaça plenamente, está apreciando, como um todo, a sua parte técnica e, ao mesmo tempo, a sua grande porção de beleza espiritual. Está recebendo uma mensagem completa, onde a forma e a imaginação se juntam como um coro de hinos celestiais transpondo-lhe os ouvidos e dirigindo-se diretamente ao coração.
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continua…
Fonte> Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.
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